Memória das minhas putas tristes
de Gabriel García Márquez




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Edição/reimpressão: 2005

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Páginas: 107

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Editor: Dom Quixote

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ISBN: 9789722028028

»Sinopse
O escritor colombiano Gabriel García Márquez faz uma pausa nos volumes da sua autobiografia Viver Para Contar para tratar das lembranças de outro em Memória de Minhas Putas Tristes.

É seu primeiro romance em dez anos (o último fora Do Amor e Outros Demónios). Nesse meio tempo, trabalhou com não-ficção na reportagem Notícia de um Sequestro, além de Viver Para Contar.

Em termos de classificação o livro é aquilo que Henry James chamou de nouvelle: longo demais para ser um conto e curto demais para ser um romance (107 páginas).

As memórias são de um homem que narra, entre outros, factos da sua vida, o dia em que completou noventa anos. Como presente para si mesmo, resolve passar uma noite intensa com uma adolescente virgem. Liga para uma velha amiga, Rosa Cabarcas (dona de um bordel), e faz o pedido. Rosa recruta uma menina de catorze anos para ele. E ali, como ressalta, "foi o início de uma nova vida, e numa idade em que a maioria dos mortais está morta". Quando o velho (cujo nome não é revelado) chega no quarto, encontra a moça (o seu nome também não aparece; ele chama-a de Delgadina) dormindo. Apaixona-se no acto. Volta a vê-la em várias outras noites, sempre dormindo, e a sua paixão não pára de aumentar.

Contenta-se apenas em observa-la. A felicidade irrestrita torna-se desespero quando o homem descobre, pela primeira vez na vida, o ciúme. Antes não havia espaço para sentimentos assim: "nunca me deitei com mulher alguma sem pagar, e as poucas que não eram do ofício convenci pela razão ou pela força que recebessem o dinheiro nem que fosse para jogar no lixo". Era a primeira vez que amava.

Não é nova a proposta de colocar no papel a relação entre uma adolescente e um homem muito mais velho, "uma tradição da qual fazem parte Lolita de Vladimir Nabokov, Morte em Veneza de Thomas Mann e A Casa das Belas Adormecidas de Yasunari Kawabata". Aliás, o livro do escritor japonês laureado com o Nobel de 1968 é a inspiração mais directa de Memória de Minhas Putas Tristes. E cedeu um trecho para a epígrafe.

Cada um desses livros retratou a relação de maneiras diferentes - Nabokov deu a Lolita poder psicológico sobre Humbert Humbert, Mann escolheu falar de amor homossexual. García Márquez trata a história de uma forma própria. Peca um pouco por repetir fórmulas. O personagem-narrador é parecido com outros que ele criou, solitários excêntricos e perdidos no espaço entre o tédio habitual e a iminência da morte.

Mas o autor acerta em deixar de lado o elemento fantástico de suas histórias. Há quem diga que a trama tem algo de autobiográfica. Talvez. Márquez teve cancro linfático, e esta pode ser uma forma que encontrou para celebrar a vida em alguns de seus detalhes mais delicados. Não fosse a sua habilidade, Memória de Minhas Putas Tristes cairia no banal ao tratar o homem que na velhice descobre o valor da vida. Não é o caso. É um livro despretensioso. Não é, e nem tem intenção de ser, acachapante como Crônica de uma Morte Anunciada e Cem Anos de Solidão, bem mais ambiciosos - o primeiro com a sua estrutura faulkneriana de pontos de vista múltiplos, o segundo com a intrincada árvore genealógica dos Buendía. Resgata uma das características desses dois romances e também de boa parte da carreira de García Márquez: a concisão.

Não há palavra desperdiçada. Essas cento e poucas páginas são o número correto, sem mais nem menos. A concisão aparece também na linguagem econômica, sem perda de beleza nas sentenças. Herança dos tempos de jornalista. Memória de Minhas Putas Tristes pode ser lido como uma fábula, um poema lírico sobre como cada momento pode ser inexorável. Uma obra para se ler em poucas horas, pensar por alguns dias e lembrar por toda a vida.

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