No tempo em que a raposa ESTRELA se passou a entender com o PILOTO, o cão do pastor, pois brincaram juntos na mata do Prado – Carmelo, quando eram pequenos e esta amizade veio a perdurar, só que agora, já adultos, passou a ter outros contornos, até porque o companheiro da ESTRELA e pai dos seus dois filhos tropeçou num ferro de apanha coelhos, debaixo de uma figueira e ali indefeso, foi morto por um caçador.                                                                                                                       

Quando, sobretudo, nas noites de verão no Carvalhal e Caramelo o PILOTO entregava a vigia do rebanho ao rafeiro e ia dar uma volta; o pastor que começou a descodificar as ausências do Piloto, por algum tempo, e se apercebeu que a ESTRELA passava informações ao Piloto, sobre a localização dos lobos, esta seria uma noite de sossego, no que à visita dos lobos dizia respeito, porque o raio de ação dos lobos ia noutra direção.

Os rebanhos nas noites quentes de verão acarravam no campo, no bardo, para estrumarem as terras e logo de madrugada saiam do bardo, curral, para pastarem pela fresca, abocando o pasto mais dondo e as poucas ervas existentes nesta época do ano. Já nos meses das noites frias, o pastor trazia o rebanho para a corte na aldeia e aqui a situação, no que aos dois amigos e amantes diz respeito alterava-se; porque a informação que a ESTRELA pudesse passar ao PILOTO, era irrelevante, porque nas cortes, os lobos não tinham acesso ao rebanho.                                               

No entanto, os lobos, faziam tentativas, junto do rebanho do pastor da Ermida, visto que o cabanal não era  completamente fechado; mas aqui os cães “pastor da SERRA” encarregavam-se da sua proteção, pois estes não faziam amizade nem se deixavam corromper com os possíveis favores da raposa, pelo que, esta também não os avisava, quando os lobos iam rondar o rebanho.     

Acontece que a ESTRELA, viciada com as visitas do seu PILOTO, já não passava sem o seu convívio; então, mudou a toca ali para a Veia-Cova, para onde se mudou com a família e assim ficou mais perto da aldeia e do seu namorado e quando sentia necessidade de convívio, chamava por ele e reclamava a sua presença e como o rebanho não corria perigo, o Piloto acorria ao seu chamado. Entretanto e como o raio campesino de ação era menor, a dificuldade de caçarem coelhos ou aves bem como ninhadas de ovos estava dificultada e a mãe ESTRELA ensinou os seus filhos, o Trovão e a Estrelinha a assaltarem os galinheiros na aldeia e nessa altura todas as casas ou quintais tinham o seu e como não se fazem festas de barriga vazia e tendo agendado um encontro com o PILOTO para a noite seguinte, instruiu os filhos como iriam pilhar umas galinhas.

Assim, logo pelo lusco-fusco e enquanto punha a conversa em dia com o PILOTO e se divertiam, ordenou aos filhos que perpetrassem o assalto para irem buscar a refeição.                                                                  

A Estrelinha, entraria primeiro na aldeia e arrastaria atrás dela os cães vigia, enquanto o seu irmão Trovão entrava nos galinheiros e aviava a encomenda da mãe ESTRELA.

Chegados a casa, depenaram os galinhaços, estenderam-nos na tolha de fieitos e depois foram chamar a mãe e o convidado para o repasto e todos ficaram de barriga cheia, mas como a manhã estava a romper, o PILOTO despediu-se e num instante de corre que corre regressou a casa.

Ao chegar a casa deparou-se com o lamurio da patroa e com um pau nas mãos para castigar o PILOTO, que fora vadiar abandonando a guarda de quem lhe estava confiada, pois o galo da capoeira e a galinha mais gorda tinham sido levados pelo raposo que ainda deixou uma outra morta.

O PILOTO começou a desbobinar as cenas da noite e logo se apercebeu, que ali, no crime, estava a estratégia da família da ESTRELA, motivo mais do que suficiente para pedir o divórcio, que se veio a consumar, sem a contestação da ESTRELA, pois como fora sempre cautelosa, também não havia prole. Em consequência deste o pastor não voltou a ter uma noite de sossego e o PILOTO teve um trabalho redobrado para defender o rebanho. 

Cá se fazem cá se pagam.                                                                                                     

(Histórias verídicas, mas por vezes com palcos algo distantes, para que os atores não possam ser identificados, como já aconteceu noutras neste blog).

Abril 2025 (no blog -Osamarra – 102)

Apaulos


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  1. A brincar a brincar, vai-nos contando fatos verdadeiros, mas desconhecidos de quase todos. Bem-haja apaulos.

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  2. A inexperiência dos filhos da Estrela fizeram com que a mãe perdesse o namorado e eles perderam o padrasto….

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  3. José Ferreira - Bela história, curta mas sumarrenta24 de abril de 2025 às 12:24

    Bela história, curta mas sumarenta, e contendo uma lição de vida, qual fábula de Lafontaine. Bom fim de semana. Abraço

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