“Estamos todos condenados ao pó e ao esquecimento, e as pessoas que evoquei neste livro ou já estão mortas, ou estão quase a morrer ou, quando muito, morrerão – quero dizer, morreremos – ao fim de alguns anos que não se podem contar em séculos nem em décadas. (...) Sobreviveremos por uns frágeis anos, ainda, depois de mortos, na memória dos outros, mas também essa memória pessoal, a cada instante que passa, está sempre mais perto de desaparecer.
Os livros são um simulacro da recordação, uma prótese para recordar, uma tentativa desesperada de tornar um pouco mais perdurável o que é irremediavelmente finito.
Todas estas pessoas de que se tinge a trama mais íntima da memória, todas essas presenças que foram a minha infância e a minha juventude, ou já desapareceram e são apenas fantasmas, ou então, como eu, estão a caminho de desaparecer, como projectos de espectros que ainda se movem pelo mundo.
Em breve todas essas pessoas de carne e osso, todos esses parentes e amigos que adoro, todos esses inimigos que devotamente me odeiam não serão mais reais que qualquer personagem de ficção e terão a sua mesma consistência fantasmagórica das evocações e dos espectros, e isso na melhor das hipóteses, pois da maior parte deles não restará mais que um punhado de pó e a inscrição numa lápide cujas letras se irão apagando num cemitério. (...)
E se as minhas recordações se harmonizarem com alguns de vocês, e se o que eu senti (e deixarei de sentir) for compreensível e se puder identificar com qualquer coisa que também sentem ou sentiram, então este esquecimento que seremos poderá adiar-se por mais um instante, no fugaz reverberar dos seus neurónios, graças aos olhos, poucos ou muitos, que alguma vez se detiverem nestas letras.”
Excerto do livro de Hector Abad Faciolince Somos o Esquecimento que Seremos (Quetzal, p.331-3)
o mal dos portugueses é andarem sempre a queixar-se e a lerem livros destes deprimentes.
ResponderEliminaracordem e vão para a rua. Iniciativa. serjam activos. Mexam-se.
Nota-se que o nível de literacia em Portugal é dos mais avançados da OCDE, contando com o jornal A Bola e Record, bem como a revista Maria,TV7dias,Caras... para não falar da casa dos segredos e suas réplicas medíocres.
ResponderEliminarSe este povo lesse literatura a sério, a sua capacidade para compreender a sua missão como nação seria outra.
não vou criticar a tua veia de reaccionário de rua, mas para ir para a rua é necessário ter um líder culto, que saiba pelo menos ler e escrever, senão é um bando de arruaceiros que não sabem porque se manifestam. é o que acontece maior parte das vezes neste local do mundo. o jornalista faz a pergunta:o senhor manifesta-se porquê?
a resposta é por vezes triste e deprimente.
nem greves sabemos fazer neste país. somos um bando de carneiros que se vende por uma viagem até a capital, na esperança de comer uma sandes de panado e umas minis.
o cérebro é um "músculo" que deve ser estimulado para evoluir na complexidade do que o rodeia, para tal processo acontecer, existe uma serie de meios e métodos para se ser intelectualmente e espiritualmente "superior", visto que a auto-estima e o acesso a uma melhor qualidade de vida é proporcional as habilitações literárias. existem várias ciências que constatam estes estudos do comportamento humano. mas só lendo e estudando é que se tem acesso a elas! formular um espírito crítico através dos meios de comunicação, de veículos que atinjam o saber de homem para homem, partilhar o conhecimento. a invenção da imprensa foi o primeiro passo para hoje não andar-mos a escrever em lascas de pedra. felizmente, o mundo evolui, e se não gostares de ler vais à famosa rede global à procura do que precisas, mas para isso tens que saber escolher e filtrar quem te fornece a opinião, para teres uma opinião formada. não basta clicar no comando da televisão e deixar que te despejem a informação e opinião que servem grupos organizados de interesses duvidosos. é um dos flagelos da contemporaneidade, o excesso de informação. ao domingo todos esperam por um professor Marcelo. o frenesim governamental das novas oportunidades, é um pau de dois bicos, promove os estudos tipo fast-food a uma população desanimada e pouco motivada, na esperança de ter um papel que certifique o seu potencial conhecimento. no final pouco mais sabem, mas introduzem uma ilusão de capacidades que na prática lhe são pouco práticas e úteis para a sua vida futura. serve única e exclusivamente para dados estatísticos de mentira sobre a educação de um povo. isto para te dizer, que mais de metade da nossa população não teve acesso conhecimento. ao prazer do conhecimento! somos um povo bruto, pouco dado ao trabalho das sinapses. se tiveres filhos nunca o critiques por ler um livro, ou apreciar uma obra artística.
se não gostas ou te deprime o texto acima citado, lamento, mas não me dissuadiste da leitura, nem me convenceste a sair para a rua gritar!
abraço
ir prá rua fazer o quê???
ResponderEliminarainda por cima está frio.
E nevoeiro...
ResponderEliminar“Trata-se evidentemente de reflexão, e a irreflexão parece-me uma das principais características do nosso tempo” – Hannah Arendt (1906-1975).
ResponderEliminarsou alergico ao alecrim e doem-me as mamas
ResponderEliminartenta comer merda de galinha.
ResponderEliminar"E se as minhas recordações se harmonizarem com alguns de vocês, e se o que eu senti (e deixarei de sentir) for compreensível e se puder identificar com qualquer coisa que também sentem ou sentiram, então este esquecimento que seremos poderá adiar-se por mais um instante (...)."
ResponderEliminarIrresistível! Obrigada pela sugestão de leitura!
Um abraço especial
como poderia esquecer-te.
ResponderEliminar"the no sense that makes sense"
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