A propósito dos belíssimos postais, há dias publicados, com o título Anteontem, Ontem e Hoje, que reportam três gerações de vidas samarras e com a devida vénia por aproveitar a boleia, fica aqui um que nos leva aos longínquos anos de “trasantontem”, palavra pouco usual, mas que fazia parte do dialecto samarra até aos anos 40/60 do século passado. Ainda acerca do primeiro postal do acima referido - “Anteontem”-, repararam no respeito do cachorro, pela Matriarca Samarra a Sra. D. Elvira? O cachorrinho ainda consegue farejar o respeito que, os seus antepassados caninos tinham e como tal se porta.
Neste postal, temos dois ilustres samarras do seu tempo. À esquerda o Ti Augusto Carapito e à direita o Ti Manuel Monteiro, que fazem guarda de honra, a outro samarra que era emigrante no Brasil, o Sr. Ernesto Monteiro irmão deste. Como pano de fundo, o Chevrolet, a primeira máquina na aldeia a consumir gasolina e a percorrer os caminhos desta, onde por vezes no inverno ficava atolado, tendo que se recorrer ao reboque, uma junta de vacas, para o tirar do atoleiro.
Recordando o primeiro, foi ele que, enquanto presidente da junta de freguesia de que também faziam parte o Ti Alfredo dos Santos e Ti António Fernandes, mandou calcetar as ruas da aldeia, ainda que com seixos, pois os paralelepípedos ainda se não martelavam por aquelas ruas, porque os barrocos graníticos eram mais duros que agora. Aqueles, vinham das terras do paul e do carvalhal, onde eram arrancados pelos arados,quando lavravam as terras para o cultivo do centeio, obrigando os lavradores a trazerem as vacas sempre bem calçadas por causa dos ditos. Por outro lado, estas estradas pelo fato de não existirem, também não faziam parte da profecia do vizinho sapateiro de Trancoso, o Sr. Gonçalo Annes Bandarra, que pelos anos 1500 e tal dizia; “As estradas se cobrirão de luto de norte a sul” como veio a acontecer. Profecia cumprida. Também, foi esta junta que empreendeu a obra de trazer a água canalizada de uma nascente de um lameiro na Ermida, para os dois primeiros fontanários nos largos da torre e da igreja. No entanto, os canos só chegariam 3 dias após o termo do seu mandato, em 03/07/1946, pelo que foi a junta presidida pelo ilustre samarra Ti Francisco Carvalho quem a veio a inaugurar, passando assim a abastecer a povoação samarra em parceria com a fonte do concelho. Os restantes fontanários são posteriores.
Quanto ao segundo, muitas vezes era chamado para ajudar a fazer partilhas entre familiares samarras e não só, diria eu tipo mediador de conflitos, ou melhor, para que eles não se verificassem, contribuindo assim para uma melhor harmonia na comunidade. Também ocupou o cargo de regedor da freguesia. Eram dois homens de bem.
Ainda de verão, mas na época em que o cuco já tinha partido para África, de onde viera “em Março e Abril, o cuco deve vir, senão vier, ou o cuco já é morto ou o fim do mundo está para vir”, pois não tinha que criar os filhos dos ovos que pusera no ninho de terceiros, que lhos criavam, e a poupa já tinha as malas feitas para, também partir para África, vinha eu de Pinhel com o Ti Augusto no seu chevrolet e quando chegámos aos altos de Valbom e do tendilhão, ele perguntou-me, não viste a poupa? Eu não, pois eu vi. Não tardou muito tempo, levou-me com ele á ribeira aos peixes, no que era perito, com umas bombinhas de carnaval e quando chegámos ao alto das ferneirizes, disse-me novamente, não viste a poupa? Então, como nas descidas eu já ia atento, também eu via a poupa, não a que já teria partido para África, mas o rodar da chave da ignição para a esquerda, para desligar o motor e assim poupar gasolina, daí a poupa. O Tio Augusto gostava de ensinar a brincar.
Recordando o primeiro, foi ele que, enquanto presidente da junta de freguesia de que também faziam parte o Ti Alfredo dos Santos e Ti António Fernandes, mandou calcetar as ruas da aldeia, ainda que com seixos, pois os paralelepípedos ainda se não martelavam por aquelas ruas, porque os barrocos graníticos eram mais duros que agora. Aqueles, vinham das terras do paul e do carvalhal, onde eram arrancados pelos arados,quando lavravam as terras para o cultivo do centeio, obrigando os lavradores a trazerem as vacas sempre bem calçadas por causa dos ditos. Por outro lado, estas estradas pelo fato de não existirem, também não faziam parte da profecia do vizinho sapateiro de Trancoso, o Sr. Gonçalo Annes Bandarra, que pelos anos 1500 e tal dizia; “As estradas se cobrirão de luto de norte a sul” como veio a acontecer. Profecia cumprida. Também, foi esta junta que empreendeu a obra de trazer a água canalizada de uma nascente de um lameiro na Ermida, para os dois primeiros fontanários nos largos da torre e da igreja. No entanto, os canos só chegariam 3 dias após o termo do seu mandato, em 03/07/1946, pelo que foi a junta presidida pelo ilustre samarra Ti Francisco Carvalho quem a veio a inaugurar, passando assim a abastecer a povoação samarra em parceria com a fonte do concelho. Os restantes fontanários são posteriores.
Quanto ao segundo, muitas vezes era chamado para ajudar a fazer partilhas entre familiares samarras e não só, diria eu tipo mediador de conflitos, ou melhor, para que eles não se verificassem, contribuindo assim para uma melhor harmonia na comunidade. Também ocupou o cargo de regedor da freguesia. Eram dois homens de bem.
Ainda de verão, mas na época em que o cuco já tinha partido para África, de onde viera “em Março e Abril, o cuco deve vir, senão vier, ou o cuco já é morto ou o fim do mundo está para vir”, pois não tinha que criar os filhos dos ovos que pusera no ninho de terceiros, que lhos criavam, e a poupa já tinha as malas feitas para, também partir para África, vinha eu de Pinhel com o Ti Augusto no seu chevrolet e quando chegámos aos altos de Valbom e do tendilhão, ele perguntou-me, não viste a poupa? Eu não, pois eu vi. Não tardou muito tempo, levou-me com ele á ribeira aos peixes, no que era perito, com umas bombinhas de carnaval e quando chegámos ao alto das ferneirizes, disse-me novamente, não viste a poupa? Então, como nas descidas eu já ia atento, também eu via a poupa, não a que já teria partido para África, mas o rodar da chave da ignição para a esquerda, para desligar o motor e assim poupar gasolina, daí a poupa. O Tio Augusto gostava de ensinar a brincar.
Histórias verdadeiras de “tresantontem”.
Texto: Junho 2012 (8) Apaulos
Muito bom, António Paulos! Recordo bem esse Chevrolet, o seu arranque com a manivela lá atrás, o ti Augusto Carapito e o ti Manuel Monteiro, meus vizinhos! Saudades!
ResponderEliminarObrigado
Abraço
era sim senhor...o arranque com manivela,a certa altura tinha tb uma ferguneta,não sei a marca, e a garagem era mais ou menos onde agora o chico mendo tem a casa,certo?
ResponderEliminarou seja que os dois a direita do sr. augusto carapito eram irmãos do sr joão monteiro, certo? creio que foi esse chevy que me levou a pinhel a fazer o exame da quarta
(soldier)
Remember! O Sr. João Monteiro (meu tio) era filho do Sr. Manuel Monteiro! Not brother!
ResponderEliminartraficava o quê este senhor? coca? ou feno? era amigo do pinto de sousa!:)
ResponderEliminaroutros tempos sem dúvida, creio que a desigualdade era mais cruel nesses tempos. a fome estava ao virar da esquina.
para o anónimo das 17.57
ResponderEliminarnão comeces,respeita os teus ancestrais,este senhor fazia bem a muita gente,quem sabe tb matou a fome a alguem dos teus,e se calhar nem bem haja...
É sempre bom recordar, e ao fazê-lo, estamos a reviver o passado. E é tanto mais gostoso, quando alguém o narra com grande precisão e ilustração,como o Apaulos tão bem sabe fazer....
ResponderEliminarTive o grato prazer de conhecer e conviver durante uns bons anos com os senhores Augusto Carapito e Manuel Monteiro,este último correspondente e assinante do prestigiado jornal da época " O Século". Ambos pessoas fantásticas.
Obrigado Apaulos por esta crónica.
CR52
Parabéns pela crónica e pela fabulosa foto.
ResponderEliminarouvi falar muito nesta máquina de 4 rodas, eis que a conheço finalmente. Foi tirada onde esta foto?
ResponderEliminarCaro CR52, obrigado pelos comentários assim como aos samarras que se reconhecem nesta crónica.Uma precissão a -César o que é de César- as ilustrações das minhas crónicas devem-se aos srs. administradores do blog.
ResponderEliminarExcepcionalmente, esta foi facilitada por um familiar dos ilustres samarras visados. Quanto ao local onde foi tirada ainda não foi possivel a sua identificação.
Abraço samarra.
essa da poupa tá bem vista, faz-me lembrar aquela do papo, apalpaste-lhe o papo à rola a ver se estava farta. Não tenho a certeza meu senhor mas deve-me estar a confundir com o meu irmão que é caçador.
ResponderEliminarEstá ali uma senhora por de trás deles que parece uma mendiga! Será?
ampliando a foto parece-me a coixinha mae do vitorino
ResponderEliminarA foto foi tirada na praça!!
ResponderEliminarvale pela foto, grande vintage, sem menosprezar o texto, claro.
ResponderEliminarObrigada pelo texto e pela foto. Meu avô Augusto Carapito era um homem muito alegre e generoso. Era muito bem quisto pelos amigos e nós seus netos o amavamos muito.Noemia.
ResponderEliminarLindo!
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