AS MINAS DE MASSUEIME, OS MINEIROS SAMARRAS E MINÉRIOS, DO AMBLIGONITE AO URÃNIO

Uma época marcante da Aldeia Samarra e das suas gentes, foi a que decorreu de 1909 até há década de 80, o período da pesquisa e prospecção mineira até à sua exploração, mas sobretudo de 1921 a 1980, primeiro os minérios de Massueime e outros e o urânio.
Foi o período em que mais gente habitou o nosso torrão natal: 1900-504 habitantes, 1940-562 e 1960-850, cem anos antes, em 1862 tinha 447 habitantes.
Frequentemente se ouvia dizer, fulana de tal teve um menino, isto se a mãe era rica e meninos continuavam até serem homens, mas se a mãe era pobre, sicrana pariu um garoto e de garotos passavam a rapazes e a homens.
Toda a aldeia vivia na onda do minério e no amanho dos campos, foi um período de grande prosperidade para uns e o de ajudar a minorar as barrigas de miséria e a pobreza ancestral, agravada com os anos da 2ª G.G., para muitos outros.



Foram os anos em que alguns, sobretudo os chamados capatazes e os que clandestinamente compravam estes minérios, conseguiram comprar algumas quintas, alguns prédios rústicos e anexar outros às suas pequenas parcelas, tornando a sua exploração mais rentável.
Os camponeses-mineiros tinham de cumprir o seu turno nas minas e fazer o amanho das terras agrícolas que pouco produziam, porque estas eram fracas e também ainda não havia adubos. Deslocavam-se directamente da mina para os campos, ou vice-versa, com o capacete e o gasómetro nas mãos, se eram operários de lavra subterrânea, onde a mulher ou o filho lhe levavam um tacho com umas batatas compostas, ou uma côdea de pão com algum apeguilho que, por vezes, podia ser umas azeitonas, uma tomate ou uma cebola nova com sal e o vivo jungido, se era para lavrar e só regressava a casa ao lusco- fusco ou mais tarde, se a candeia-lua tinha petróleo, permitindo-lhe dar mais uns regos de lavoura, descavar mais um barroco, ou cavar mais uma leira de terra para a horta.

A par da exploração industrial por parte dos concessionários, que era feita com operários de lavra subterrânea ou com operários de lavra a céu aberto, os que faziam a separação do minério dos inertes e todo os trabalhos na lavaria, havia toda uma aldeia envolvida na actividade de busca “do ouro negro, ou matizado de várias cores”, onde as mulheres e raparigas investiam o seu tempo. Assim, as raparigas ou mulheres jovens e memos jovens e até já na 3ª idade, consumiam-se na procura do minério, removendo as entulheiras à procura de pedras com algumas gramas de minério, ou recolhendo-as em pequenos poços que a sua experiência lhes permitia descobrir, ou a relha do arado, por vezes, deixava a descoberto e que procuravam explorar de dia e de noite, até a GNR ou os capatazes dos concessionários darem conta e eles assumirem a sua exploração.
As pedras recolhidas eram pisadas, o seu conteúdo era lavado, tal como os sacos de terra e areia que enchiam junto das entulheiras, ou nos aluviões e que carregavam à cabeça até aos regatos, às poças de água ou à ribeira, levando ainda num braço a bacia cheia de inertes e as jovens mães, por vezes, a cesta de vimes com o garoto dentro, como as mulheres africanas pescando nas bolanhas com os filhos amarrados nas costas, para baldearem aqueles inertes e terras, com o fito de verem no fundo da bacia algumas gramas de minério, que depois de o secarem numa folha de zinco com uma fogueira por baixo, tendo sempre por perto os capatazes ou a GNR local, que as obrigavam a vender o fruto do seu trabalho nos escritórios das minas. Só com muita arte e engenho conseguiam esconder algum para venderem por fora aos “candongueiros” ou contrabandistas, que o pagavam mais caro e que o passavam para compradores em Espanha. Também se verificou a procura do minério volante, predominando aqui o Estanho, sobretudo depois das terras serem lavradas e de uma chuvada que o arrastava para os caminhos ou regueiras, sendo procurado mesmo pelos garotos, nomeadamente no caminho dos mortórios, da rasa, da figueireda e caijarotos. Os terrenos da aldeia estão matizados de minérios.
Finda a exploração mineira na Massueime, seguiu-se para muitos a emigração / imigração e outros ainda se conseguiram encaixar nas minas de urânio que, entretanto começou a ser explorado, mas estas ocupavam menos força laboral.



Também foi o início, meados da década de 50, em que alguns pais, quando lhes surgiu a oportunidade de mandarem os seus filhos estudar, pensamos tratar este assunto noutra crónica, o fizeram, embora com muitos sacrifícios e estes, valorizados pelos estudos e não tendo perspectivas de vida na aldeia, também ali não voltaram. Aliando todos estes fatos, foi assim que a aldeia começou a perder os seus residentes. Em 2013 a aldeia tem menos de 170 residentes e de 1960 a 2011 perdeu 1/5, no mesmo período a capital perdeu 1/3.
A procura do minério na zona de Massueime terá começado cerca de 1909 por uma empresa francesa. No entanto, só por volta dos dois conflitos mundiais é que a sua exploração começa a fazer sentido devido à sua grande procura e rentabilidade. Foram efectivamente a 1ª e sobretudo a 2ª Grande Guerra, devido à falta de metais como os que se encontravam nos filões de Massuieme, de alto valor e grande qualidade, para as suas peças bélicas, que determinaram a sua exploração e a alteração no modus vivendi das gentes desta aldeia e aldeias vizinhas, como aliás em muitas outras de Portugal.
O jazigo de Massueime está confinado entre o complexo Xisto-Grauváquico ante Ordivícico e os Quartzitos que formam a serra de S. Pedro. A paragénese destes filões era constituída por cassiterite, estanatite, pirite, calcopirite, scheelite e ambligonite.
O Conjunto dos filões quartzosos e pegmatíticos das minas de Massueime com direcção E.W. e com pendores que variam entre os 80º/75º para Norte. Aqui, foi encontrado pela 1ª vez em Portugal o minério de Ambligonite (fosfato de lítio). Este minério foi descoberto em 1817 na Saxónia – Alemanha. É um mineral flúor-fosfato (alumínio, lítio e sódio) e concentra-se em bolsadas azuis claras que podem atingir centenas de kilos e chegavam a aparecer cristais e piões de cassiterite de 4/5 cm. A sua exploração ocorreu entre cerca de 1920 e 1952, e destinava-se sobretudo à indústria de cerâmica e vidreira, nomeadamente à extinta Fábrica de Louças de Sacavém.
Os camponeses acreditavam ter direito ao minério encontrado nas suas terras, ou pelo menos, a benefícios da riqueza ali açambarcada pelas sociedades concessionárias, mas sem alvará e sem guias nada podiam fazer, embora existisse legislação de indemnização pelos prejuízos causados, devido à ocupação dos terrenos explorados. Foi-nos referido que esta compensação nem sempre se verificou por parte dos concessionários e actores envolvidos que partilhavam em simultâneo, os espaços da legalidade e da informalidade. Também houve um período em que uma pequena percentagem do valor do minério vendido revertia para a junta de freguesia.
Os minérios mais explorados nas minas de Massueime e terras samarras foram quatro: O já referido Ambligonite, o Estanho, Volfrâmio e Scheelite.
Os primeiros filões a serem explorados, nos limites territoriais da aldeia, foram no Cabeço da Ponte e Poucosiso, sitos na encosta da margem direita da ribeira, junto da entrada nordeste da ponte, daí “o Fraldinhas” ter instalado ali a taberna abarracada, justamente para servir estes mineiros.


ESTANHO ou Cassiterite 
Estanho

É um metal muito antigo, cerca do ano 3.000 a.C,. sendo o 2º metal, depois do cobre, há mais tempo utilizado pelo homem. É um metal de Nº atómico 50 e massa atómica de 118,7U. De cor prateada, branca ou cinza, os seus principais minérios são o hematite e o cassiterite; É maleável e é sólido na natureza e de baixo ponto de fusão. Usado para produzir diversas ligas metálicas

A sua exploração nas minas de Massueime, começou muito cedo e terminou cerca de 1959. No entanto, a exploração intensiva verificou-se a partir de 1921 até cerca de 1951, a partir de trabalhos subterrâneos, poços e galerias e do aproveitamento dos depósitos aluvionares e eluvionares da Ribeira de Massueime, nomedamente na Mina do Rio e na Mina dos Marmeleiros.


Março 2013 (19)
Apaulos


continua...

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  1. Uma palavra amiga e de coragem para todos quantos lá trabalharam e uma Homenagem sentida, a título póstumo, para todos aqueles que tendo lá trabalhado, já não estão entre nós, ( provavelmente por lá terem trabalhado), O agradecimento a todos eles e ás suas Famílias, que ajudaram, de algum modo a engrandecer a nossa querida Santa Eufêmia.
    PS: Se fosse noutra qualquer localidade, já existia uma estátua, talvez um pequeno monumento a homenagear todas as vítimas das Minas........Assim......

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  2. fazem, desfazem, destroem, fazem que fazem... Aqui está uma boa ideia que podem e devem aproveitar, um monomento ao mineiro. Somos uma terra de minas e mineiros onde muitos pagaram com a sua vida. Era bom enaltecer este facto. Ninguém se lembra mas quase 100€ dos habitantes nalgum tempo trabalhava nas minas, inclusivé menores e foi graças às nossa minas que fomos talvez a primeira aldeia do concelho a ter iluminação publica e estrada com alcatrão. Hoje ninguém conhece a nossa história recente ligada às minas.

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  3. Há um casario em ruinas, junto ao lugar da Praça, que tem um anúncio em como os seus proprietários dizem que vendem. Que bela praça, ajardinada, com um monumento ao mineiro samarra, daria este espaço.
    Junta e Camara; Juntem esforços-se e faça um Monumento ao Mineiro, que perpetue, algo que marcou esta Aldeia Samarra e de algum modo outros mineiros do concelho de Pinhel e no qual, todos os que ali pararem relembrem os seus ancestrais.

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    1. Excelente proposta António,aquilo está horrível !

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    2. excelente ideia mas não acredito que esta junta tenha bom gosto para tanto

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  4. também lá temos um Salão em ruínas que insistem manter em segredo o que lá vão fazer. Também podem lá fazer isso.
    Esperem! Aquilo não é do povo, é da Igreja. Nada feito.

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  5. No local da Praça parece boa ideia. Assim, quem quer que atravesse a Aldeia verá o monumento.
    Saudações Samarras

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  6. Quando lancei a ideia de um Monumento ao mineiro na nossa terra ( terra de mineiros, durante tantos anos), não o fiz com muita consistência, julgando que a ideia não fosse levada a sério, apesar da oportunidade e exigência que o passado da Aldeia nos legou do passado. Por outro lado, sou filho de um mineiro que lá trabalhou durante tantos anos e não me ficaria bem ser eu, nesta qualidade, o mentor da ideia.Mas já que até hoje, nunca ninguém se lembrou de tal, ficam as bases para debater no futuro. Compreendam que mantenha o Anonimato.
    Saudações Samarras

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  7. Acho uma excelente ideia, se quer que lhe diga. É uma pena se não a aproveitarem mas vai ser complicado pois o ainda responsável pela junta anda atarefado a arranjar uma lista. É uma questão de tentar.

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  8. A acertada justiça do Samarra.
    Como já foi referido, foram os franceses que começaram as pesquisas no couto mineiro de Santa Eufêmia, que mais tarde viria a ser a grande indústria, para a época e a razão do desenvolvimemto desta terra e de tantas gentes que ali viveram e de aldeias vizinhas e por essa altura havia um mineiro que no fundo da mina procurava enganar o capataz, batendo com uma pedra na picareta ia cantarolando; "eu faço que trabalho, mas não trabalho" e estava nesta cantinela, quando foi surpreendido pelo capataz que nada lhe disse, no entanto, quando chegou o dia do pagamento, ao passar por ele, também ele cantarolou: "eu faço que te pago, mas não te pago".

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    1. mais uma bela estória que desconhecia
      muito bem

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  9. Muitos destes MINEIROS partiram bem cedo em viagem e só regressarão, muitas vezes, às nossas recordações. Esta terra, muitas terras vizinhas e o próprio concelho muito ficaram a dever ao período do minério. Ele matou a fome a muita gente, fez enriquecer alguns, mas também levou muitas vidas ainda no prazo de validade.Todas estas terras e o concelho deviam erigir um espaço, por mais singelo que fosse a recordar esta actividade e estes Homens e Mulheres; Camponeses e Mineiros e se esta geração o não fizer, de certo que outras os esquecerão.

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  10. Completamente de acordo, avizinham-se as eleições, quem as quiser ganhar que se comprometa a fazer jus ao que acima ficou referido e de certo que será eleito.

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  11. QUEM SE COMPROMETE???? QUEM QUER SER O PRESIDENTE???? ESSE TERÁ O MEU VOTO.

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  12. Estamos novamente em ano de eleições, muitos tem sido os recados de apoio a esta causa aqui deixados, nomeadamente, volta e meia o Apaulos faz referência a esta necessidade que nos inquieta e queima a consciência, pela justiça que tarda em se fazer. O compromisso assumido na campanha eleitoral de tudo fazer para que este objectivo se concretize, será para quem ganhar as eleições, com a força do voto, meio caminho andado para dar força a esta realização. Daqui a pouco tempo já não existirão na aldeia filhos de mineiros e todo este sentimento de gratidão e homenagem se esbaterá.

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  13. Esta é uma causa, estou certo, que todos aqueles que tiveram familiares envolvida nesta actividade e refiro-me, também, a pessoas de aldeias vizinhas, que todos apoiarão. Força.

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  14. Simples e simples, Benjamin Lee é a pessoa mais simpática e o melhor oficial de empréstimo a seu serviço. Tivemos um caminho muito acidentado durante todo o nosso processo de renovação do negócio, devido a circunstâncias sem fundos. O Sr. Ben ficou em cima de todas as partes para garantir que tudo se mantivesse nos trilhos, a fim de cumprir nosso prazo apertado para fechar nosso empréstimo. Apreciamos tudo o que ele fez por nós e recomendamos altamente ele e sua empresa de empréstimo a qualquer um que queira obter financiamento. Mais uma vez obrigado, Sr. Ben.
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