A tradição social de reuniões nas tabernas para beber uma bebida já vem no mínimo do tempo dos Sumérios, 3.500 anos, a. C., onde o taberneiro era, tradicionalmente, uma mulher. A partir do século XIX passaram a ser conhecidas como “pubs”, mas na Aldeia Samarra foram sempre tabernas, até darem lugar aos cafés/minimercados.
Dado o número elevado de habitantes nas aldeias, sobretudo em Santa Eufêmia, já o referimos numa das crónicas que estas aldeias tinham todas muita gente, sendo assim as tabernas também eram em grande número, tendo chegado a funcionar cinco estabelecimentos em simultâneo. Quanto aos habitantes regista-se o que as estatísticas dos recenseamentos nos dizem:


Ano     Fogos   Habitantes 
1862      115         447
1890      100         540
1920      135         502
1940      145         562
1960      180         850
2011                      171

Uma das tabernas mais antiga, que ainda podemos recordar, esteve estabelecida na Rua Direita, nº 28 e pertenceu a Maria Paula Taberneira que a explorou até aos anos 20 do século passado. O espírito empreendedor desta mulher samarra, projectou-se pelos anos fora até aos nossos dias, nos seus descendentes, como veremos mais à frente.
Pela mesma altura, mas de início mais recente, funcionou uma outra no nº 47 da Rua Direita, aliás a artéria que mais estabelecimentos teve desde sempre e foi seu proprietário Augusto Carapito que a explorou até cerca de 1930.
Quanto aos negócios da primeira, na década de 20/30, deram-lhe continuidade dois filhos ainda que em estabelecimentos autónomos. O Joaquim Paula na Rua de Santo André e seu irmão Isaías Paula na Rua do cemitério, esquina com o actual nº. 29 da Rua Direita, para onde, após a reconstrução da casa, passaria o estabelecimento onde funcionou até 1981, tendo ele falecido em 1979.
Como nota de rodapé, informa-se que aqui funcionou durante anos o posto de correio e era aqui que os subscritos levam o primeiro carimbo dos correios, mesmo os das aldeias vizinhas. O carteiro transportava-o de e para Pinhel, primeiro num burro e mais tarde de bicicleta e era lido à porta da taberna e ou, mais tarde as pessoas perguntavam se havia correio para elas, o que obrigava a que se deslocassem mais a este estabelecimento, potenciando assim a possível procura de alguns artigos e esta seria a única recompensa do trabalho e responsabilidade do oficio. Quando apareceram os telefones, a central de telefones que também servia várias aldeias vizinhas, também ficou instalada neste estabelecimento e à frente da mesma esteve durante 12 anos a D. Celeste Paula sem que recebesse qualquer compensação dos CTT. O correio tinha transitado da residência de Augusto Carapito na Rua Direita, nº 18, onde esteve sediado vários anos.
Do nº. 29, passou para uma central que foi montada, provisoriamente, na antiga escola no Largo de Santo André, até à instalação da actual central, à entrada do povo junto da primeira moradia do lado esquerdo de quem entra na aldeia pela Ermida e à frente da qual se manteve a D. Maria do E. Santo Paula Carapito, até o serviço ser transferido para o seu estabelecimento na Rua Direita, nº 24 cerca de 1974.

O Joaquim Paula explorou o estabelecimento até 1943, data do seu falecimento, tendo os negócios sido continuados pela viúva D. Ana Ferreira, que pouco tempo depois passou o alvará a um samarra por adopção via casamento, Joaquim Lourenço o “fraldinhas”, que montou o estabelecimento numa casa abarracada na margem direita do Rio Massueime, à entrada da ponte romana, com o intuito de servir os mineiros da mina do Cabeço da Ponte, esta ainda hoje bem visível. A exploração do minério estava em alta para satisfazer a procura dos metais em que este era transformado e que a 2ª Grande Guerra de 1938/1945 consumia. Oportunamente voltaremos a este assunto.
O Joaquim Lourenço pouco tempo depois resolveu emigrar para o Brasil e fechou a barraca. Uma outra esteve instalada na Rua do Meio, Quintã dos Queijos, propriedade de António Queijo. Continuando na identificação dos locais e seus proprietários, tivemos uma outra no Largo da Cancela dentro do pátio de Pedro Aguiar que a explorou até ao seu falecimento em 1943, dando-lhe continuidade a viúva Sra. Felisbela Aguiar até cerca de 1960, sendo auxiliada pelas filhas que eram um chamariz para a rapaziada da época, não significando que não fossem raparigas sérias e respeitadas que efectivamente o foram.


Em simultâneo, funcionaram uma na Rua Direita, nº 55 à praça, em cuja toça da porta está a era de 21.5.1878, propriedade de Joaquim Soeiro/Irene Soeiro, a mãe samarra que mais filhos criou na aldeia e ainda entre nós e que mais tarde veio a encerrar para abrir uma moagem de cereais, na senda de um moinho que tinha no sitio do Castelo no leito do Rio Massueime. Neste rio existiu um outro moinho junto do actual lagar de azeite, que foi propriedade de Francisco Ribeiro (ti Xico Moleiro) , cujos negócios foram continuados pelo filho Viriato Ribeiro e genro José Júlio que também explorou uma taberna na Rua de Santo André, no tempo em que as duas atrás também funcionaram. O ti Xico Moleiro, um dia em que andava aos peixes no Rio Côa com umas bombitas, que não deviam ser de Carnaval, perdeu um antebraço.

Ainda que mais recente, no período de 1966 a cerca de 2000, existiu outra na Travessa do Negrilho, nº 13, propriedade de José Martinho que, aquando do seu fecho já a havia transformado em café. A par deste estabelecimento explorou um táxi, que durante muitos anos foi o único meio de transporte disponível para quem não tinha carro e tivesse necessidade de se deslocar. Finalizamos esta, com a lembrança de uma taberna ambulante, também da década de 60, Propriedade da Sra. Maria Angelina que, carregava os pequenos pipos de vinho no lomba da burra, para servir os canecos de três, por feiras, festas e mercados, acompanhados com tremoços, que adoçara no poço do quintal, para fazerem o lastro à pinguita.

(Continua - parte 1ª de 2)


Texto: Apaulos
          Outubro 2012 (13)


12 comments Blogger 12 Facebook

  1. nestas ultimas 3 décadas dediquei parte da minha vida à causa da copofonia, desta matéria percebo eu, vi a evolução das medalhas da super bock desde que esta tinha apenas 3 consecutivas! Aprendi o que era um panaché por acaso quando estava a beber uma gasosa sepol e dei um trago numa sagres pelo meio. Que mistura fantástica, pensei eu.
    Hoje sigo a minha felicidade e continuo com novas misturas, mas agora com gelo, em busca da perfeição.
    Obrigado a todos.

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  2. Que belo relato! Das melhores crónicas que já li, com informação histórica familiar que desconhecia. Parebéns.

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  3. Parabéns, António Paulos! Muito bom! Fizeste-me ir até muito lá atrás! :) Conta-nos mais coisas!
    Abraço

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  4. tipo aquela história da D. Benvinda que nos tanques teve que pedir à população para lhe empurrar o carro e quando chegou a Pinhel abriu a porta para sair o filho "então filho tão caladinho!"
    O puto não estava lá, ficou na aldeia, quando teve que sair para puxar o carro...
    Levei tantas daquela gaja!!

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  5. Agradeço a um dos Administradores do Blog que corrija a palavra "Ancetral" para Ancestral! (Certo, APaulos?)

    Obrigado

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  6. ...quero dizer, "Ancetrais" por Ancestrais!

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  7. Se há crónicas que nos trazem um valor acrescentado e que merecem a pena serem lidas com atenção, esta é uma delas.Retrato fiel do passado de muitos de nós, embora eu na altura não tivesse a idade exigível para frequentar aqueles locais (as tabernas), sim, porque naquela altura havia rigor... Mas é sobretudo, um documento histórico e social de que a nossa Aldeia se pode orgulhar.Recordo algumas delas, como recordo também a História do Correio.....
    O APaulos regressou ao seu melhor...Parabéns!
    CR52

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  8. conta-nos mais paulos,faz referencia tb aos mercados quinzenais que se faziam nesses tempos,creio que daí o nome da praça.e que posteriormente era feito,onde hoje existem os edificios das escolas.

    (quando morre um velho,arde uma enciclopédia)onde é que eu já li isso?

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  9. João!Obrigado pelas palavras encorajadoras. Fiquei intrigado por solicitares para corrigirem a palavra ancetrais, porque não a tenho no meu texto, embora, o erro exista no nome do ficheiro onde a guardei mas não na crónica.
    Quanto aos mercados quinzenais a que o anónimo se refer, acho que seria um bom tema para nos decrever o que sabe sobre o assunto. Será que esteve em África? Onde o legado oral sempre teve grande predominancia e é ali que se diz: Sempre que morre um velho é como se ardesse uma biblioteca.
    Obrigado abraço.

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    1. que diferença fazia o ances,ou ance ,nao vejo nisso pano pra mangas!não te intrigues...don´t loose your sleep!

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  10. se li com atenção a crónica, parece-me que está em falta uma taberna que esteve localizada onde hoje é a habitação da antiga professora D. Aninhas.

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