Os Oceanos e Mares concentram 1.380.000.000 km2 de água correspondendo a 97% da reserva hídrica mundial. As águas Continentais possuem um volume do total de 38.000.000km2, 2,7% da água do planeta. “wiki”.
Perante números desta magnitude, o que interessam os recursos hídricos dos ribeiros samarras?
Digamos que pouco, muito pouco, ou mesmo pouquíssimo; mas interessam aos samarras porque são os nossos.
A nascente, de corrente constante, da fonte da Ermida da Sra. das Fontes podia ser a nascente de um curso de água, podia ser o início do maior ribeiro samarra, podia ser se os lameiros não absorvessem a sua água, mas também o não seria porque ele é um ribeiro troca tintas; senão vejamos como ele perde a sua identidade mutante no seu percurso tortuoso.
Começa a alimentar-se nas águas sobrantes dos lameiros da Ermida, escorridas das terras da Figueireda e das colinas sudoeste dos Caijarotos e após umas centenas de metros mais a baixo, com a ajuda de regatos e regueiras, convence os passantes que já passou de regueira a ribeiro, adoptando o nome de Ribeiro do Castenheirinho e ali mesmo obriga-os a construírem-lhe a primeira das suas sete pontes.

Uma das suas pontes já no início do verão.

Continua o seu percurso entre lameiros, freixos ou hortas e ao atingir as Pontinhas, onde o seu caudal é alargado, entre as duas pontes de que se honra, quando assume as águas dos lameirões da Cachaça, do Maregedo e do Defarelo e onde adopta este nome de Ribeiro das Pontinhas; para umas dezenas de metros mais abaixo e com a desculpa do outro que diz: a minha terra é aquela onde me encontro; muda para Ribeiro das Cerdeirinhas quando atinge estas terras, onde dá de beber às suas leiras de batatas, feijoeiros, abóboras e primores e permite que a aprovisionem nos depósitos dos poços abertos nas suas margens, para que no estio, as terras que o limitam possam continuar a ser regadas e a produzirem.
Permitam-me que façamos aqui uma visitinha, à Cachaça, antes que ela fique demasiado para trás. Como poucos dos que lerem esta crónica conhecerão o sítio, vale a pena espreitar este lago/pântano; lago nos invernos chuvosos por via das águas que recebe dos lameiros da Moita Redonda e da Lameira de Cima, que por sua vez se alimentam das que escorrem das terras do Paul e da Fareleira e necessariamente pântano, quando, no início do verão as águas que recebe dos lameiros começam a escassear, perdendo a capacidade de as poder escoar por entre os buracos das paredes que o rodeiam, porque fica mais fundo.

Exemplares nascidos e criados no ranário da Cachaça.

Este lago/lameirão é a maior sala de espectáculos dos batráquios, no meio do território da aldeia; é neste espaço, com feitio de anfiteatro, que os tenores - machos - rãs realizam os seus concertos, quando, com o seu coaxar demarcam o seu território e chamam a si as fêmeas para aumentarem a sua prole. Era encantador e era um privilégio poder ouvir aqueles concertos à distância, sim porque eles recusam-se a actuar com assistência por perto e também recusam aplausos, apenas as libelinhas são autorizadas a planar sob o seu anfiteatro. Este é simultaneamente a maior maternidade, o maior ranário, do interior das terras samarras e a sua grande morgue, quando, o sol do verão evaporava as suas águas, tornando-se no restaurante preferido dos répteis que por ali abundam debaixo das fragas que o rodeiam. Fica aqui uma confidência, o repasto dos clientes atrás referidos só não era maior, porque os garotos samarras, sempre que podiam, também procuravam surpreender algumas rãs para apreciarem a carne branca das suas pernas, depois de temperadas com sal grosso, se bem que, em abono da verdade, também não havia outro. As duas nascentes que brotam sob as lajes qual fonte de Moisés, não são suficientes para o aguentarem, no entanto, as rãs depositam ali os seus ovos e os girinos vão-se aguentando até ás primeiras chuvas, para assegurarem a continuidade da espécie, não sonhando a sorte que os espera. Estas fontes também matavam a sede aos garotos samarras que iam com o “vivo” para a Lameira de Cima, ajoelhando-se à sua beira e sorvendo a água com os lábios meios cerrados para não engolirem algum girino, ou recolhendo-a com um copo que faziam de uma folha de couve galega. Também matavam ali a sede as cotovias, pombas e rolas, que por vezes deixavam ali a roupa, se o garoto samarra, em vez de dormir a sesta resolvia armar ali umas ratazanas.
Deixemos o nosso Mar Morto e desçamos ao percurso tortuoso do nosso ribeiro. 

Na noite de tempestade de Janeiro passado e a coberto da noite, galgou as suas margens e invadiu a via paralela, para de madrugada se acomodar novamente no seu leito, tingindo as suas águas de roxo, fazendo jus ao nome com que o seu padrinho o baptizara.

Se bem que as suas águas só marcam verdadeira presença, ou melhor, só incomodam nos invernos chuvosos, quando as terras que o ladeiam, já bêbedas, se recusam a beber mais e vomitam para os regos e regatos os excessos e estes para o ribeiro, engrossando o seu caudal, que viria a fazer mover os rodízios de dois moinhos que no seu curso estavam instalados e as suas águas ajudaram as couves galegas a crescerem e a manterem-se frescas para delas se fazer o caldo verde. Antes de mudar de nome, novamente, fez com que lhe construíssem mais duas pontes para que o pudessem atravessar de pés enxutos, uma delas a ponte das Cerdeirinhas e outra, ponte do Outeiro a que faz a ligação do Outeiro ao Bairro da Quintã.

Não as Niagara Falls, mas as Cataratas Samarras.

Seguindo o seu curso, cada vez com mais água, por via de mais um e outro regato e um caminho que ali depositam os seus excessos e depois da ponte do Outeiro, passa a Ribeiro das Taliscas, em cuja margem direita se situou o primeiro moinho deste curso de água, que foi explorado pelo “Ti Viriato Ribeiro”, cerca dos anos 40/60 do século passado. Chegado aqui, corre no meio urbano e as suas águas também tiveram como missão limpar os detritos que ali foram deixados durante o verão. O conceito de bom “ambiente” ainda não era ensinado aos garotos na escola e estes ainda não chamavam a atenção aos pais para estes assuntos, nem havia a recolha de lixos sólidos ou outros; estamos a reportar-nos até à década de 50/60, anos em que ainda não existiam, nem água canalizada, nem saneamento básico. Pouco depois de deixar a zona das Taliscas, entra nas terras do Fundo do Povo e logo adopta esse nome. Quando chega à Regada e já, após a fusão com o Ribeiro de Castenheiro ou da Fonte, que tem as suas nascentes nas colinas das minas do urânio, toma o nome de Ribeiro da Regada, onde se sediou mais um moinho, cujo proprietário foi o “Ti José Joaquim Rodrigues”, que o explorou até à primeira década do século passado, tendo-lhe sucedido por herdo a sua filha “Tia Teresa Mendo”. Abandona o povoado e continua, recebendo mais à frente as águas do Ribeiro do Sancho Branco que carrega as águas das terras da Confraria, Lameira de Baixo, Lomba e Lameiro dos Freixos. 

Também este, após o tombo na catarata, as suas águas acalmam e correm mansamente até à foz.

Chegado às terras do Ribeiro Prado, nome que já se adivinha, também adoptou e quando encontra o Ribeiro da Ferradosa, que também funde; avança até à tapada cujas terras alaga nos dias de grandes enchentes e mais uma vez, pela margem direita, sim porque da margem esquerda só lhe entra dentro o da Fonte; recebe o último afluente com as águas das colinas e fontes ferradas da Serra, do Vale da Armada, Pardinha e Vale d’Azinha e umas centenas de metros mais à frente, depois de passar sob a última ponte do seu percurso, termina a sua efémera epopeia de cerca de 2 Km, o que faz dele o maior curso de água dos termos da aldeia e entrega-se nos braços de uma grande ribeira, que limita a Oeste o concelho de Pinhel, perdendo a sua identidade mutante, para engrossar a Ribeira de Massueime, que irá levar as suas águas até ao Rio Sagrado, o Rio Côa.
O único ribeiro que tem o atrevimento de despejar as sua águas directamente na ribeira, sem a permissão deste, é o Ribeiro do Lameirinho com as águas das colinas da Pinta e Caldeireiro e ainda recebe as do Vale D. Sancho, até terminar o seu curto percurso directamente na ribeira cerca de duas centenas de metros antes deste.

Maiores Bacias Hidrográficas do Mundo: Bacia Amazónica;
Peru,Colômbia,Equador,Venezuela, Guiana, Bolívia e Brasil, com 7.050.000 km2,
Bacia do Congo; Congo com 3.690.000 Km2,
Bacia do Mississippi; EUA/Canadá, com 3.328.000 km2.
Maiores Oceanos e Mares: 
Oceano Pacífico, 179.700.000 km2, profundidade máxima 11.020m,
Oceano Atlântico, 106.100.000 km2, profundidade máxima 7.758m,
Oceano Índico, 73.556.000km2, profundidade 7.455m.
Maiores Rios em Extensão: 
Amazonas, Brasil, com 10.245 km,
Nilo, Egipto, com 6.671 km,
Yangtzé, China com 5.800km.
Maiores Lagos: 
Mar Cáspio – Oeste Ásia e Leste Europa, com 371.000 km2 e 1.025 de profundidade,
Lago Superior - EUA/Canadá, 84.131 km2 e 906m de profundidade,
Lago Vitória - Uganda, Tanzânia e Quénia, com 68.100 km2 e 73m de profundidade.

Como é que a gota de água do ribeiro-troca-tintas é tão mais importante para as gentes samarras, mesmo quando comparado com estas monstruosidades?!.. 
É porque este é dos Samarras. 


Fevereiro 2014 (37)
Apaulos


13 comments Blogger 13 Facebook

  1. Fiquei surpreso com o SUSHI que os garotos Samarras faziam de pernas de râ; ou será que depois de as salgarem, ainda passavam pelas brasas. Parabéns por mais uma delícia e pelas belas fotos de recantos samarras.

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  2. Deve ser um ribeiro de espécie única pelo facto de ter tantos nomes.

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    1. afinal como se chama o ribeiro?

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    2. BELOS TEMPOS QUE TERMINADA A MISSA AOS DOMINGOS ,CORRIA ATE O POÇO DA GOLA E DAVA UM BELO MERGULHO

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  3. Como se refere na crónica é o nosso maior curso de água, quer em extensão, quer em volume de água, à medida que vai recebendo os seus afluentes, e adopta o nome aos locais por onde vai passando. Daí ser um curso de água de nome mutante e por esta razão de ser apelidado de troca tintas, aqui na crónica.

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  4. grande investigação, sim senhor. Parabéns!

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  5. Até a rã colaborou, que belo exemplar. Gstei da crónica e que belo cenário nos descreveu sobre a Cachaça. Obrigada por não deixarem morrer, aquilo que os nossos antepassados viveram e de certo apreciaram.

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  6. Grande incursão pelos cursos de água da Aldeia e que belas fotos, que nos fizeram recordar os tempos em que por aí nos passeámos Parabéns aos autores por nos ajudarem a reviver tempos que já não voltam.

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  7. Magnifico relato, gostaria de conhecer este percurso de água. Parabéns ao seu autor

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  8. A cor desta água resulta de poluição ou foi pintada para a foto. Lindas fotos.

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    1. a interferência do sol, da grande quantidade de água, das várias cores da paisagem e um excesso de brilho e contraste coloriram a foto com estas cores. As águas não estão poluídas, para já!

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  9. O Ribeiro Teimoso é o que passa no Seixo Branco, a caminho da Ferradosa.

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  10. Também o maior Rio do Mundo podia ser chamado de "troca-tintas", pois só no Peru, onde nasce na cordilheira dos Andes com o nome de Ucayali, muda 6 vezes de nome e no Brasil onde desagua na bacia do Amazonas, muda de Solimões, para Amazonas, entrando no Oceano Atlântico no norte Brasileiro.

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