Já descorçoada com as injustiças e fanfarronices que a rodeavam, encheu-se de coragem e foi falar com o avô Neptuno, pois pensou avô é avô e de certo que me vai ouvir; assim, meteu-se ribeira acima e foi apresentar o assunto que tanto a consumia e pedir um conselho ao avô, pois do pai mal ouvira falar e na verdade nem sabia o seu nome.


Neptuno recebe a neta no meio de uma nuvem de nevoeiro. 


O avô recebeu a neta com todo o carinho, ouviu o que tanto a atormentava e revelou-lhe o nome do pai, onde o podia encontrar e encorajou-a a apresentar a sua reivindicação, já que ele avô não gostava de se imiscuir nas responsabilidades a que aos filhos diziam respeito.
E à boa maneira samarra, prepara uma cesta com petiscos genuínos da aldeia e como estávamos em Junho, um cestinho com lindas e apetitosas cerejas bicais, esperando assim granjear os favores do pai; pois em tempos contaram-lhe, que era hábito darem-se prendas quando se pedia um favor, nomeadamente às médicas que mal viam o saco diziam, é para mim, dê cá, e também se lembrou da história que a sua avó lhe contava e recontava, sabem, ela já era velhinha e repetia com frequência as mesmas coisas. 
Dizia a avó, que a professora quando viu a mãe com a prenda das chouriças nas mãos disse: já não vem a tempo pois já mandei as notas para Pinhel, mas deixe ficar as chouriças. 
Se tinha dado certo com os seus ancestrais, porque não com ela! Ribeira acima, sim porque ela corre de Sul para Norte e após vários interfaces; Côa, Douro e Rio Ibéria, chegou ao palácio do deus "Rino" seu pai. Desde logo, é bem recebida pelas tágides do seu pai, o que lhe deu alento, para o propósito que ali a levara.

As tágides recebendo com toda a deferência A Massueime 


Já na presença do pai diz: pai, estou muito incomodada e triste de ser chamada de Ribeira e a minha reivindicação é que devo ser promovida a Rio, pois não quero ser comparada com as ribeiras; das Cabras, de Pega, do Porquinho ou do Picheiro, que passam a vida a conspurcar o rio sagrado do tio Rio Côa, cabendo-me a mim o trabalho de o desemporcar com a radioactividade dos meus minérios e com os hectolitros de águas lixíviadas que ali deposito, para que as suas águas cheguem limpas ao rio Douro e assim o tio não se sinta enxovalhado. 
Acho da mais elementar justiça que me diferencie das minhas primas; pega, cabras, etc., que são cada vez mais, como se vê pelos seus caudais e me promova a Rio, como recompensa dos bons serviços prestados e que fazem com que o meu tio não se envergonhe de entrar no Douro e que aquele fedor não chegue ao Oceano e às narinas do meu avô e seu pai Neptuno. 
O pai que a ouviu com toda a generosidade e carinho, logo porque o chamou de pai, mesmo sem nunca o ter visto e achando justa a sua reivindicação, chamou as suas tágides e ali lavrou o decreto da sua promoção. E “A” Massueime, passa a “O” Massueime e voltando para as suas águas, rio abaixo, chegou a casa, à sua magnifica Ponte Romana e a sua primeira acção foi afixar no salão nobre o decreto com que o seu pai a honrara.

 Mas, também na casa de seu pai, existiam os informadores infiltrados e esta notícia, ainda a recém - promovida não tinha chegado a casa, já chegara aos ouvidos tísicos das primas, que de imediato fizeram uma manifestação hostil, mas as tágides do seu pai bloquearam-lhes o caminho a este.


As tágides bloqueiam o caminho às ribeiras porcalhonas 


Quando abrandou a exploração dos minérios no Massueime e sobretudo quando fecharam as minas do urânio e o consequente abrandamento da radioactividade e da lixíviação, também as águas que se caldeavam e doseavam no Poço da Gola, antes do açude do Massueime junto do lagar de azeite, após a recepção das águas radioactivas e lixíviadas do Ribeiro do Castinheiro, para correrem rio acima e se entregarem nos braços de seu tio o Rio Côa, na dose adequada de cumprirem a sua missão; a fanfarronice das ribeiras poluidoras foi tanta, que a honestidade e humildade do Rio Massueime, vendo-se na impossibilidade de cumprir cabalmente os compromissos que lhe serviram de bandeira para pedir a sua promoção, enviou um pedido de audiência, pela enguia mais rápida das suas águas, ao seu pai que de imediato a recebeu e a quem explica o motivo desta solicitação, que o pai compreende e aceita e volta a casa com o nome primitivo, o de batismo e com um certificado de seu pai gravado a ouro: “Ribeira de Massueime, a dilecta filha honesta e honrada”, que punha as suas primas negras de raiva, sempre que a visitavam e davam com os olhos naquele certificado que era único. 
As cabras, pegas, porquinhos e picheiros, que são cada vez mais, já haviam dilatado as bexigas para aumentarem os seus caudais e fazendo uma retracção nas suas torneiras, entre as pernas, voltaram aos seus pontões e a emporcar as suas ribeiras, fazendo jus aos seus nomes e sem cuidarem de quem as iria despoluir; enquanto a Massueime continuava instalada na sua magnifica ponte Romana, em paz com sua consciência, pois a gota de água que depositaria no Oceano de seu avô Neptuno, após percorrer os 5 concelhos que atravessa até ao Côa, continuaria a ser limpa, porque ela saberia esquivar-se à mistura, qual azeite na água, quando desaguasse no leito do rio sagrado, o Côa, agora novamente conspurcado pelas suas primas. 

A deusa “Cibeles” controlando as sereias do alto da varanda do seu palácio

Para quebrar a monotonia paisagística que se avista dos 5 arcos romanos da sua ponte, a sua bisavó “Cibeles, a deusa dos deuses”, ordenava às suas sereias que, pelo menos uma vez por ano inundassem as suas olgas; como quem faz uma limpeza geral anual e assim, com esta auto-estrada do Douro à nascente da Massueime, todos os seres fluviais aproveitavam este tapete rolante, para viajarem em segurança e renovarem os seus efectivos. De quando em vez, ordenava à deusa das neves “Alleria”, que lhe estendesse um manto branco de neve, para que ela deleitasse os olhos e se divertisse com o passo demorado dos cágados e com as brincadeiras dos coelhos que habitam os seus territórios; não se esquecendo, contudo, de responsabilizar a deusa “Diana”, pela sua segurança, diante a concupiscência da raposa sempre à espreita de afiar o dente, porque na neve era fácil seguir os passos dos seus petiscos. Estes eram os miminhos com que a bisavó presenteava a sua bisneta “A MASSUEIME”, após reconhecer que não devia dar passos maiores que as pernas. 



Junho 2013 (26) 
Apaulos


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