A mãe, de joelhos, com as lágrimas banhando-lhe o rosto, enquanto o seu menino lhe entrelaçava o pescoço com os frágeis bracinhos, agradecia a Deus ter-lhe lançado nos braços o seu tesourinho são e salvo e jurava a Ele e ao seu pequenito, que jamais o deixaria sozinho, enquanto este, com um suspiro de profundo alivio, reclinava a cabecinha nos seios da sua mãe, o seu travesseiro gostoso e adormecia.
Esta é uma história verídica protagonizada por um menino Samarra, que hoje já terá ultrapassado o meio século e sua mãe que Deus tem.

Santa Eufêmia 1978
Baptizado - Igreja de Santa Eufêmia

Era costume, as jovens mães saírem para as tarefas dos campos e levarem os seus rebentos ao colo ou a cavalo nos burros; desta vez, logo pela manhã e após a mamada e porque a sua intenção era não se demorar muito tempo, deixou o seu menino a dormir e com o coração nas mãos e o filho no pensamento correu para a horta.
O menino que ainda não completara os dois anitos, ainda não tinha chegado a garoto; acorda, chama pela mãe e sentindo que estava só, chora e resolve ir procurar a mãe.
Como a sua caminha ficava rente ao parapeito de um pequeno janelo térreo, tenta e consegue abri-lo, sai por ele para uns molhos de lenha que se encontravam encostados ao mesmo no exterior e de bibe, descalço e rabinho ao leu, põe os pezitos a caminho, aquele caminho que fizera tantas vezes ao colo da mãe.

A mãe tinha ido ao Maregedo regar a horta de primores e plantar umas alfaces, não dando conta que se estava a demorar mais do que previa. O menino depois de atravessar a povoação, ali pelo Largo da Cancela, é interpelado por um senhor que lhe pergunta: oh menino!.. Para onde vais? Sem que tivesse o discernimento de o acompanhar ou de o proteger, ao que o petiz respondeu: mina mãe e continuou o caminho programado naquela cabecinha ao encontro da sua mãe.

Como estávamos no fim da Primavera, de certo que se cruzou com muitas lagartixas e eventualmente outros répteis e possivelmente um ou outro cão vadio abandonado no tempo da caça, mas como ao menino e ao borracho, Deus põe a mão por baixo; chegou ao ribeiro do Castenheirinho no entroncamento, quando se deixa o caminho da Lameira de Cima e se faz uma deriva à esquerda para o Defarelo, a caminho do Maregedo, quando a mãe o avistou ao longe e incrédula, tira da cabeça o caldeiro cheio de couves e correu para o seu menino envolvendo-o em enlevo e lágrimas.

Guiné-Bissau 1967
Confeccionado pelo soldado Leonel, do Terrenho - Trancoso, que mo ofereceu.

Hoje, este facto parece-nos uma histórinha de fazer adormecer crianças, mas esta era a realidade dos nossos antepassados e ainda nos anos em que nós fomos criados nas décadas difíceis de 40/60 como o atesta esta. O dia a dia, era feito de uma correria e de uma cultura de sacrifícios e de ardo trabalho.
Em homenagem às nossas mães. 

Dezembro 2013 (33)
Apaulos

7 comments Blogger 7 Facebook

  1. Amor de Mãe!.. Muito bem. Quem é o bébé da foto? Será que tb. consulta o blog? Pela mãe alguns devem conseguir identificá-lo. Quem conseguir que se pronuncie!..
    Gostei

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  2. a cara nao me é estranha...

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  3. Maria Augusta Pascoal9 de dezembro de 2013 às 18:22

    a mae parece ser minha prima Inacilda ! por ela penso que seja o filho dela.. saudadess dela..

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  4. Sendo assim este, que foi menino, deve consultar todos os dias o "OSAMARRA" !.........

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  5. NÓS TAMBÉM TIVEMOS O NOSSO "NOAH SAMARRA". Decorria o ano de 1954 e o nosso "NOAH - Noé com 2 anitos, o personagem desta história; não o que aparece na foto, tem hoje 69 anos e como já passaram mais de 50 anos a sua graça é "J. Paulos. Os samarras andavam sempre adiantados no tempo e agora!!!.

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    1. Houve até outros casos como este, estou a lembrar-me de uma menina que a caminho de Pinhel se perdeu no Tendilhão, acho que foi ter à Póvoa

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