Elas são: Maria Amélia, Amélia Maria ou simplesmente Amélia e foram registadas como tal, antes de aparecer a moda dos registos das; Sandras, Saras, Sofias, Sónias, Suzanas, etc., etc..
Amélias que ainda recordo: Amélia de Jesus, Amélia Fernandes, Amélia Paulos, Amélia Monteiro, que já nos deixaram, “RIP”; Maria Amélia Tomás, Amélia Rodrigues, Maria Amélia Fernandes, Amélia Tomás, que nós tratávamos/tratamos, cada uma per si, por “srª. Amélia”.
Este grupo de Amélias se lessem as crónicas “da Decrua às Malhas”, neste blog, iriam ver-se e reviver-se naqueles trabalhos árduos e rudes ali tratados, de foice em punho, na mão oposta à que calçava a dedeira, para se resguardar de um deslize da foice e chapéu de palha de abas largas, para, na medida do possível, as protegerem do sol abrasador destes dias de segadas, em que foram actrizes de corpo inteiro, mas também eram elas que com os seus cantares os tornavam mais leves e “divertidos…”, ajudando a esquecer as canseiras, que suportavam de sol a sol. Dado que estas tarefas se faziam por norma a torna-dias, nos dias em que eram patroas, carregavam à cabeça o alguidar de sopa entulhosa, em que todos enterravam a colher, para que não se entornasse no lombo da burra que transportava os alimentos mais consistentes e que levavam pela rédea, não fosse ela tropeçar e deixar o rancho de barriga a dar horas. Entretanto, na cozinha, alguém se encarregava de confeccionar a refeição que se seguiria após esta, pois o trabalho árduo assim o exigia e havia que providenciar para que ao rancho não faltassem as forças.
Ora viva o nosso patrão de hoje
Que em tudo é cavalheiro
No comer e no beber
E até no dar o dinheiro
“Já o sol se vai pondo
Lá por trás do cabecinho
Bem podia o nosso amo
Mandá-lo mais ligeirinho”.
Também as minas e minérios podiam contar muitas histórias vividas com estas Amélias, algumas carregando uma cesta, no braço, com o seu recente rebento e na outra e á cabeça os sacos de terra que iriam lavar na ribeira ou numa poça que faziam num regato de água, para apurarem algumas gramas de minério que ali pudessem estar misturados com a terra. Estas foram duas das múltiplas tarefas, que muito ocuparam estas Amélias Samarras da primeira geração aqui referidas. M. Amélia R. Silva, escapou a estas lides porque os seus pais deram o salto mais cedo para o Porto e ali teve hipótese de estudar e tornar-se Srª. Professora. Esta foi a geração das Amélias Samarras, mais sacrificada, nas rudes tarefas do campo que cumpriram com esforço redobrado e com o objectivo de darem outras hipótese de vida às suas Amélias.
Apesar dos gagos que também os havia na aldeia, não consta que alguém tivesse de carregar um nome porque o pai, padrinho ou ajudante de notário, este, por ser duro de ouvido e mole de cultura, tivesse deturpado o nome do rebento, como o desta criança e hoje mulher; quando o ajudante pergunta, então que nome vamos dar à cachopa? Olhe, bote-lhe Ana e o ajudante cumprindo o que o progenitor ditara, lá regista a criança de “Botelhana”, nome pelo qual ainda hoje responde, mas não a procurem na aldeia, porque esta realidade não foi registada na aldeia Samarra e as nossas Amélias sempre foram Amélias; mas, no registo de uma delas, o ajudante ao perguntar ao pai que nome ia dar à filha, ele esquecendo-se do nome que lhe encomendaram, ditou para o ajudante o nome da madrinha que era Amélia e assim, o número das Amélias Samarras, desta prosa, subia para 16.
Até aos anos 70, ainda se registavam as Amélias, mas estas já não passaram as passas das segadas, da procura do cornazoilo, das praganas das malhas nas eiras, que se infiltravam por tudo quanto era sítio, ou das pepitas do mineiro, pelos caminhos e regatos de água, abundante por todo o lado; das idas com o vivo para a Lameira de Cima ou Lameira de Baixo, porque já saíam para estudar e mais tarde, umas migraram pelo mundo fora e outras com as suas licenciaturas, não tendo hipótese de emprego na sua terra, também migraram. Nomes de algumas Amélias desta segunda geração: Amélia R. Ribeiro, Amélia J. Tomás, Amélia Frias, Amélia Monteiro, Amélia M.de Jesus, Amélia P. Carvalho, Amélia P. Ribeiro.
Em Maio 2014 em “Telhados de Vidro - Nº. 19” uma Samarra (Amélia M.J.) recordava, o que ouvira às Amélias da 1º geração aqui referidas, uma delas sua avó que já não conheceu, que, ao saltarem a “fogueira de rosmaninho” nas noites dos santos populares, diziam a prece do ritual das festas pagãs do fogo, agora associada ás comemorações dos santos populares: “Venha o mal para as camélias e o bem para as Amélias”.
Tu és Santo Milagreiro
Vá lá, dá uma ajudinha
É pró Monumento ao Mineiro,
Ó rico São João
Para seres nosso padroeiro
Revela-nos os nºs do euromilhões
É pró Monumento ao Mineiro,
Ó meu solitário São Pedro
Não foi o cabrito, foi o cordeiro
Que te arrastou do altar serra abaixo
Porque não deste pró M. ao Mineiro.
Em homenagem às “Amélias Samarras” na noite dos santos populares.
Junho 2015 (51)
Apaulos
O autor da crónica também deve conhecer a lenda sobre o santo, o pastor e o cabrito, onde se deve ter inspirado para esta última quadra, mas para quem não sabe aqui vai. Havia um pastor que foi ter com o Sãos Pedro na capela da serra com o mesmo nome, lá para a Ribeira, para lhe agradecer a protecção que lhe deu ao seu rebanho, contra os lobos e como gratidão levou-lhe o melhor cabrito do rebanho. Após agradecer ao santo, atou o cabrito aos pés deste e saiu da capela. O cabrito ao ver-se sem o pastor, arrasta o santo serra abaixo a berrar pelo pastor, este ao aperceber-se vira-se para trás e grita para o santo: agarra-te às estevas meu pichote!...
ResponderEliminar"Meu pichote" - faz parte dos termos tão característicos do nosso temo de garotos.Gostei
ResponderEliminarlindo, seu pichote :)
ResponderEliminarAmélias . . . grandes Samarras !
ResponderEliminarApaulos,sugiro que seja feita uma cronica acerca dos alcunhas samarras
ResponderEliminartapa garrafas é logo o nome que me vem á cabeça
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