O Dr. Carlos Azevedo de Carvalho, o médico decano dos médicos Samarras e o primeiro da nossa geração dos anos 1940, no dia 24 de junho 2021, aos 73 anos, partiu para a última viagem, aquela viagem em que já não vamos por nós, mas que nos levam.
Nesta foto ao chegar a casa, dia 16 de junho, depois de uma cirurgia no IPO de Coimbra, que foi considerada bem-sucedida; com a primogénita dos seus três netos, que eram “a luz da sua vida”, como ele dizia.
Dias depois e já em casa, ocorreu uma complicação grave e levaram-no para o hospital (CHUC), mas dada a gravidade da complicação os seus pares nada puderam fazer para lhe salvar a vida. Carlos RIP e que ELE, o PAI, te tenha reservado um lugar, junto dos justos.
Sempre que um conterrâneo o procurou no hospital dos Covões, onde durante décadas exerceu o seu múnus como médico intensivista, o Carlos por si ou juntos dos seus pares procurou prestar a melhor ajuda possível e também por isso ele é digno da nossa gratidão e homenagem. Dele, os seus amigos de profissão dizem; profissional competente, um intensivista de mão cheia, homem de uma elegância e trato extraordinário, de sensibilidade que sabia criar e manter afetos. Quando no início da pandemia do Covid19 e devido ao seu estado de saúde já inspirar cuidados, refugiou-se na aldeia com a sua esposa a Teresinha e ali pôde apreciar e saborear o retorno do bem que fez aos conterrâneos, enquanto esteve no seu hospital em Coimbra.
Na aldeia Samarra, assim como em todas as aldeias daquele
Portugal profundo, até cerca dos anos 1960, os garotos nasciam nas várias
maternidades samarras onde foram feitos, em casa dos seus pais, assistidos pela
pseudo-parteira da terra, quando a avó ou mãe, não se achavam competentes para
desempenharem o serviço de ajuda à parturiente. Fulana de tal pariu um garoto;
o Carlos, assim como o seu mano Hermínio, meu irmão de leite, como ele me
apresentava aos seus amigos, faziam parte do lote diminuto daqueles que
nasceram meninos e assim continuaram até à juventude e em contrapartida à
situação anterior, dizia-se: a D. fulana de tal teve um menino. O tio Delfim
Carvalho e os manos aqui referidos, seus sobrinhos, foram os primeiros, sem
sobressalto, a darem continuidade à formação escolar no liceu do distrito,
porque os garotos e só alguns, ficaram sujeitos à sorte e generosa oferta que
lhes foi sugerida, para iniciarem os seus estudos noutros estabelecimentos,
porque mais modestos em termos de custos, não necessariamente em termos de
qualidade de ensino e à qual estão eternamente gratos, porque, depois do ali,
puderam dar continuidade à diversidade da sua formação académica, o que lhes
permitiu dar um rumo diferente à vida que os esperava e assim também poderem
potenciar, nos seus filhos e netos o alfobre de “Doutores Samarras”, mais de
150 de que esta aldeia se orgulha e refletem o bem-haja aos nossos avós e pais
pelo esforço que fizeram e pelo ADN que nos transmitiram, pois eles foram os
primeiros heróis.
Sabemos que os Fidalgos de Santa Eufêmia, e gerações posteriores tiveram filhos licenciados em várias áreas do saber, nomeadamente; professores, religiosos- padres e freiras e também o 3º bispo de PINHEL de 1797 até falecer 19 de julho 1828, D. Bernardo Bernardino Beltrão Freire tinha sangue Samarra, mas o Dr. Carlos Carvalho terá sido o primeiro médico Samarra. Hoje a Aldeia Samarra tem mais de 40 profissionais dedicados à área da saúde com sangue Samarra e pelo menos 20 são médicos, nominados, como se pode verificar na crónica,” Os Doutores Samarras”. Uns e outros, sempre que possível voltamos à terra que nos viu nascer, numa visita de mata saudades.
Estes dois irmãos, que fizeram a sua vida em duas grandes metrópoles, Lisboa e Coimbra, estavam a procurar arrumar as suas vidas, onde foram profissionais de excelência, como a maioria dos seus conterrâneos, que não deixam os seus créditos por mãos alheias e dizíamos, para no sossego da aldeia gozarem as suas reformas e respirarem o cheiro do húmus daquele chão que os viu nascer e que eles amavam.
Primeiro o advogado Hermínio Azevedo de Carvalho em 2015 e depois a mãe Aurora em 2016, que estava quase na esquina dos 100 anos, mas tal como a Moisés a quem Deus permitiu que avistasse a terra prometida a partir do Monte Nebo, quando resgatou o povo Ebreu do Egito, a caminho daquela, mas não lhe permitiu que a pisasse e Moisés, argumentando que, com os seus 120 anos já estava com idade avançada e cansado, passou o comando dos Ebreus a Josué e ali se finou no Monte Nebo; hoje terra da Jordânia, onde tem um Memorial e agora os nossos, advogado e seu mano o médico, também não puderam voltar ao chão que os viu nascer, enquanto em vida, para reaprenderem a gozar e saborearem o rol de recordações, que cada esquina e monumento lhes recordaria, bem como apreciarem o seu sossego.
À família, Dra. Teresa Morgadinho Carvalho, e aos filhos; Ana Sofia, médica neurologista no CHUC (Centro Hospitalar e Universidade de Coimbra) e ao Francisco Luís, economista e residente nos USA, bem como à restante família, os nossos sentimentos de conterrâneos e amigos. Ainda recordo o Francisco, quando criança, no trator e ao lado do avô ZÉ, fazia a curta distância do caminho até à Vinha de Ordem.
Dia 23 ao passar pela aldeia, verifiquei que as portas das
janelas das sacadas da sua casa estavam abertas e perguntei à minha mana se o
Carlos e a Teresinha estavam cá e disse que não e que eram “mulheres” que
estavam apenas a arejar a casa. O Casario da sua habitação na aldeia, em
tempos, fez parte da casa fidalga, cuja varanda do século XVIII o ligava ao
corpo principal.
Enquanto garotos e se já tínhamos idade para ficarmos nos
ATL’s, leia-se a brincar na rua com outros garotos, mas ainda não tínhamos
idade para ajudarmos os pais nas tarefas campesinas, era ali que ficávamos. Os
meus amigos aqui referidos, os meninos, tiveram a Eduartina, para na aldeia ou
nas minas de Massueime ou de Almendra, ode passavam temporadas, por via da
profissão do pai, os entreter e cuidar.
Mas garotos ou meninos, todos gostamos/gostaram de “Santa
Eufêmia” nossa padroeira e da “Senhora das Fontes” e sua Ermida, que veneramos e que este ano comemora 250
anos como Santuário e elas que nos acolheram e protegeram debaixo do seu
manto, nos momentos difíceis, qual mãe materna, mesmo sem nos apercebermos,
agora começa a chegar a hora de aos poucos, nos juntarem no LRE, leia-se Lar de Residência
Eterna, para onde não temos pressa de ir, mas uma vez lá também não pedimos
para sair.
Esta prosa já vai longa, mas seria apenas um paragrafo das
conversas que deixamos de ter, por não darmos tempo ao nosso tempo e quando
damos conta, já não há tempo para o que gostaríamos de ter feito. Se nós
consideramos e estimamos o mecânico do nosso carro, como não considerarmos,
estimarmos e gostarmos dos “mecânicos”, que não precisam de desligar o nosso
motor para cuidarem da nossa saúde e eu procuro ser reconhecido e estimar os
meus e nesta homenagem ao nosso “Médico Dr. CARLOS”, quero englobar todos
aqueles que com sentido de responsabilidade cuidam da saúde daqueles que os
procuram.
Bem-Hajam
Julho 2021 ( no Blog 86)
Apaulos
Dr. Carlos um conterrâneo discreto, amigo e apaixonado pela sua terra e quando o procuravamos no hospital onde trabalhou, nunca nos virou as costas, disso sou testemunha. Descanse em paz e sentidos pessames à Familia.
ResponderEliminarDesconhecia muitas das qualidades deste médico e conterrâneo, mas aqui também me fez acreditar que muitos de nós mesmo nas grandes cidades somos alguém, bem-haja por estar sempre a puxar pelas virtudes dos Samarras. Que o Dr. Carlos descanse em paz e condolências à familia enlutada.
ResponderEliminarMais um Samarra que honrou, as Mulheres e Homens deste chão e que nos deixou, diria eu, antes do tempo. Dr. Carlos RIP e sentimentos à Família e amigos. Obrigada.
ResponderEliminarQue delicia de crónica, pois ao mesmo tempo que realça as virtudes, humanas e profissionais destes dois manos Samarras, não se esquece de outros, que por esse mundo fora, que não deixam os "Samarras" ficar mal. Mesmo num momento de tristeza, ele procura animar repondo no seu devido lugar as virtudes dos competentes e puchar por todos os conterrâneos. Bem-haja APaulos.
ResponderEliminarOla ,alguém poderia me informar o paradeiro do Francisco pelas terras americanas? Tbem estou por aqui e qui ça encontrar um familiar e tbem conterrâneo samarra
ResponderEliminarCaro anónimo, se se identificar, provavelmente algum familiar do Francisco lhe poderá dar o contato dele, mas entretanto informo-o que ele desde há cerca de um ano se encontra a trabalhar em Florência - Itália. saudações Samarras
ResponderEliminarO Francisco, há cerca de meio ano, foi novamente chamado pela entidade patronal a regressar aos EUA, onde trabalha numa Multinacional ligada ao ramo dos petróleos. Mais um Samarra que honra os nossos pergaminhos, tal como o seu pai e muitos outros Samarras. Um ano 2025 com saúde para todos os Samarras espalhados pelo mundo.
ResponderEliminarComo nota de rodapé, a Mãe do Francisco, sempre que pode, como o fez este ano, procura reunir a família na aldeia, para que os mais pequenos, os netos e são três, aprendam a gostar do chão onde os seus avós e pais tem o seu ADN e neste Natal até foram tocar os sinos como outros meninos. Assim reuniu a família dos dois manos (Herminio e Carlos)D. Teresa Morgadinho Carvalho, Bem-Haja pelo exemplo. Apaulos