Artista: Joseph Mallord William Turner (1775 - 1851), Dido building Carthage; or the Rise of the Carthaginian Empire (1815).
Tema:
A pintura certamente não pode ser considerada uma típica pintura pastoril, mas apresenta elementos que se ligam a essa tradição, como veremos. O quadro encontra- se hoje na National Gallery de Londres, ao lado da pintura de Claude Lorrain, Porto de Mar com Embarque da Rainha do Sabá, de 1648. A associação foi na verdade uma exigência de Turner, que via em Claude uma meta a ser alcançada 3 Hunt, John Dixon (org). The Pastoral Landscape. Studies in the History of Art, nº36, National Gallery, Washington, 1992 4 Askeen, Pámela. Claude Lorrain (1600-1682): A Simposium. Studies in the History of Art, n°14, National Gallery, 1984 152 e superada. Essa pintura pode ser entendida como um estudo do quadro do vêlho mestre, mas também e acima de tudo, como uma declaração do desejo de Turner de ser digno de postar-se a seu lado 5.
A pintura é também a primeira de uma série de três sobre a Eneida, de Virgílio (escrita no século I d.C.): O Declínio do Império Cartaginês, de 1817 e Dido Ordenando o Equipamento da Frota, de 1828. O livro narra a história de Enéias, filho de Anquises e Afrodite, destinado a casar-se com Lavínia e a fundar assim, uma nova e maior Tróia, parte de uma grande nação que viria a ser Roma. Ao longo de sua viagem pelo ocidente, Enéias passa por Cartago, na África, onde conhece a Rainha Dido, que se apaixona por ele. Os deuses, não desejando o casamento entre Dido e Enéias, ordenam que ele vá embora, deixando a ela o final trágico: a rainha queima o próprio corpo em uma fogueira feita com os objectos do casal 6.
O quadro Dido Construindo Cartago, por si só, não nos transmite a tragicidade da história literária, que se torna presente apenas em associação com os dois outros quadros da série. É portanto interessante que Turner tenha escolhido este quadro para ser exposto ao lado de Lorrain, pois de todos da série é o que mais se aproxima de seu espírito de tranquilidade. Tanto a escolha do momento narrativo quanto a própria composição da pintura demonstram que Turner, em 1815, encontrava-se ainda muito ligado à tradição pastoril, que via no equilíbrio e na harmonia qualidades essenciais para a construção de uma paisagem ideal. Por mais que desejasse abordar temas de conteúdo sublime, sentia-se impelido a aproximar-se do universo harmónico de Claude Lorrain.
Nessa pintura o espectador é colocado em uma cena quase quotidiana da construção de Cartago – ela não indica um momento específico da história e nem prenuncia um acontecimento.
A calmaria do quadro revela que Enéias ainda não passou pela cidade. A rainha Dido, luminosa em um vestido azul e dourado, caminha em meio às obras da margem esquerda, supervisionando a construção da cidade. Mais à frente, quatro crianças observam um barco de brinquedo, uma cena tipicamente pastoril que transmite alegria e nos dá a sensação de que a cidade está tranquila. O rio calmo mal perturba os barcos, aglomerados ao fundo, e o sol, de uma luminosidade dourada, é reflectido harmoniosamente em toda a composição.
Os planos são organizados de forma clássica, levando o olhar de um lado ao outro. A leitura gradual sai do primeiro plano, de cores vivas e maior nitidez, passa por um plano intermediário mais pálido até chegar ao fundo, onde a cidade é representada como uma mancha cinzenta. É interessante notar como Turner posiciona cada uma das construções em um ângulo diferente – uma clara demonstração de seu domínio sobre a perspectiva linear, matéria que depois, em 1911, passaria a ensinar na Royal Academy.
A pintura é também a primeira de uma série de três sobre a Eneida, de Virgílio (escrita no século I d.C.): O Declínio do Império Cartaginês, de 1817 e Dido Ordenando o Equipamento da Frota, de 1828. O livro narra a história de Enéias, filho de Anquises e Afrodite, destinado a casar-se com Lavínia e a fundar assim, uma nova e maior Tróia, parte de uma grande nação que viria a ser Roma. Ao longo de sua viagem pelo ocidente, Enéias passa por Cartago, na África, onde conhece a Rainha Dido, que se apaixona por ele. Os deuses, não desejando o casamento entre Dido e Enéias, ordenam que ele vá embora, deixando a ela o final trágico: a rainha queima o próprio corpo em uma fogueira feita com os objectos do casal 6.
O quadro Dido Construindo Cartago, por si só, não nos transmite a tragicidade da história literária, que se torna presente apenas em associação com os dois outros quadros da série. É portanto interessante que Turner tenha escolhido este quadro para ser exposto ao lado de Lorrain, pois de todos da série é o que mais se aproxima de seu espírito de tranquilidade. Tanto a escolha do momento narrativo quanto a própria composição da pintura demonstram que Turner, em 1815, encontrava-se ainda muito ligado à tradição pastoril, que via no equilíbrio e na harmonia qualidades essenciais para a construção de uma paisagem ideal. Por mais que desejasse abordar temas de conteúdo sublime, sentia-se impelido a aproximar-se do universo harmónico de Claude Lorrain.
Nessa pintura o espectador é colocado em uma cena quase quotidiana da construção de Cartago – ela não indica um momento específico da história e nem prenuncia um acontecimento.
A calmaria do quadro revela que Enéias ainda não passou pela cidade. A rainha Dido, luminosa em um vestido azul e dourado, caminha em meio às obras da margem esquerda, supervisionando a construção da cidade. Mais à frente, quatro crianças observam um barco de brinquedo, uma cena tipicamente pastoril que transmite alegria e nos dá a sensação de que a cidade está tranquila. O rio calmo mal perturba os barcos, aglomerados ao fundo, e o sol, de uma luminosidade dourada, é reflectido harmoniosamente em toda a composição.
Os planos são organizados de forma clássica, levando o olhar de um lado ao outro. A leitura gradual sai do primeiro plano, de cores vivas e maior nitidez, passa por um plano intermediário mais pálido até chegar ao fundo, onde a cidade é representada como uma mancha cinzenta. É interessante notar como Turner posiciona cada uma das construções em um ângulo diferente – uma clara demonstração de seu domínio sobre a perspectiva linear, matéria que depois, em 1911, passaria a ensinar na Royal Academy.
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