Não há nada mais difícil de entender do que a morte… a partida definitiva dos que amamos, é incompreensível. Não aceito. Por mais que, infelizmente, já tenha passado pela perda, mais vezes do que alguma vez julguei, não consigo aceitar.
Tudo o que não compreendo, custa-me a aceitar. Principalmente se isso é perder para sempre, pessoas que fizeram parte da minha vida, desde que nasci.
Independentemente de ser rápido e sem ninguém esperar ou lento e que faz com que se definhe dia após dia…
“Foi pelo melhor, só já estava a sofrer.” Quando alguém me disse isto, no momento em que perdi o meu grande pilar, a pessoa que sempre foi o meu exemplo e que mais me amava, tive vontade de agredir a pessoa que proferiu tamanha estupidez. Sei que não o disse por mal, nem com intenção de me magoar ainda mais, mas cai tão mal ouvir uma barbaridade destas…
Num momento em que não podíamos estar mais frágeis, em que ficamos sem chão, com o coração em chagas, tudo que nos é dirigido, ou nem sequer é ouvido ou faz-nos ainda pior. Só se quer ficar sossegado, fechado num pequeno mundo em standby, como se pudesses curar o que foi destruído dentro do nosso ser.
Não há cura milagrosa. Só mesmo o tempo, para nos ajudar a sarar a dor atroz. Os meses e anos vão passando, milhões de coisas vão sucedendo nas nossas vidas, e aquele vazio começa a ficar mais ténue. Nunca vai desaparecer, nunca se vai tornar pequeno, apenas se atenua. Porque a vida continua. A vida nunca pára… nem mesmo com a morte de quem faz parte de nós.
Aprendemos a gerir a ausência e a viver novamente com todas as mudanças que tal facto nos traz. Uma parte de mim morreu com ela. Parte essa que nunca mais recuperarei… tal como nunca mais estará fisicamente na minha vida. Emocionalmente, o lugar no coração, pertencer-lhe-á para todo o sempre e sei que estará presente em mim, a cada minuto da minha existência.
Todos os dias se sente saudades… todos os dias se olha para uma fotografia e vêm à memória, milhares de recordações mágicas, dos tempos em que essas pessoas estavam connosco, de risos, abraços protectores e carinhosos, de beijinhos nas têmporas e de palavras sábias. Momentos em que se cantou, chorou, em que se foi feliz e em que sentimos que o nosso pequeno mundo iria desabar. De deitarmos a cabeça no colo, a soluçar de tanto choro e de recebermos imenso carinho…
“ Shhhhh… vai ficar tudo bem. Vais ficar bem.” Ecoa tantas vezes na minha mente, como se ainda fosse verdade, como se ainda a ouvisse dizer-me e ter a certeza que de facto ia correr pelo melhor.
Não há uma única vez que me dirija onde ela repousa e não chore como uma criança… com saudades, muitas saudades. Acho que em milésimos de segundos, enquanto olho para a fotografia que lá tem, me esqueço que já partiu. Parece mentira. Parece uma realidade muito longe, muito pouco credível. Não é algo que tenha muito consciente… mas que fica bem presente quando sou visualmente confrontada com aquela realidade verdadeira.
Que ela já partiu há demasiado tempo. Que nesse tempo, todos os dias sinto uma saudade inexpressável, um vazio imenso e tantas vezes perdida sem aquela sabedoria que só os mais antigos e puros têm. E agradeço sempre, todo o ensinamento que ela me transmitiu, todos os valores que me passou, tantas crenças que dela adoptei e que me trouxeram aqui. À Mulher que hoje sou e que vejo reflectida no espelho. E em todo o orgulho que sinto, por ter parte dela em mim.
Ontem, hoje e sempre.

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