Esta crónica nasce na necessidade e revolta que senti ao ler no Blogue, alguns comentários menos respeitosos a um Herói Samarra da Guerra do Ultramar, de certo por falta de conhecimento, porque a placa toponímica do seu largo, que originou esses reparos, também não explicitava minimamente quem fora, lacuna que recentemente foi corrigida e com toda a justiça. Os seus promotores estiveram bem.
Quando chegava a altura dos mancebos samarras irem à inspecção (irem às sortes), neste caso a Pinhel, onde funcionou o antigo quartel, os que tinham ficado apurados voltavam à aldeia com um fita vermelha na banda do casaco, os que tinham ficado esperados com fita verde e com fita branca os que ficaram livres. Nessa tarde e noite corriam todas as tabernas da aldeia para festejarem este grande dia ou não fosse comum ouvir-se: Tens de ir à tropa para te fazeres homem!...
A Primeira Grande Guerra de 14/18 iniciou-se em 28.07.1914, com a declaração de guerra do governo Austro-Húngaro apoiado pelo aliado alemão à Servia e teve na sua génese o assassinato em 28/6/1914 em Sarajevo na Bósnia do Arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro e sua esposa Sofia, Duquesa de Hohenberg, pelo sérvio Gavrilo Princip e terminou em 11.11.1918 às 11h00 com a assinatura do armistício entre os Aliados e a Alemanha dentro de um vagão-restaurante na floresta de Compiègne, pondo assim fim à Primeira Guerra Mundial. Seguiu-se o tratado de paz de Versalhes celebrado em 25/01/1919.
Portugal participou ao lado dos Aliados, quando lhe é declarada guerra pela Alemanha em 09/03/1916 e pela Áustria-Hungria em 15/03/1916, com as primeiras forças junto às fronteiras das colónias em África. Para este conflito foram mobilizados cerca de 200.000 homens. A principal força foi integrada na CEP- Corpo Expedicionário Português e só na batalha do vale da ribeira de La Lys de 09 a 29 de Abril de 1916, na região da Flandres – Bélgica, ficaram mais de 7.500 soldados portugueses. No total terão perdido a vida mais de 10.000 homens e milhares de feridos. Tu és Aníbal Milhais, mas vales por Milhões e assim ficou conhecido, sendo este o único soldado raso português a ser condecorado com o Colar da Ordem da Torre e Espada a mais alta condecoração existente no país e era de Valongo, Murça.
Quando hoje perguntamos, quem foram os soldados samarras que participaram na 1ª Grande Guerra, são poucas as pessoas que se recordam de alguém ou dos seus nomes, pois já não há memórias vivas que nos relatem as suas façanhas, no entanto, a nossa pesquisa descobriu alguns que honraram a nação samarra e para que jamais se esqueçam os seus nomes, aqui ficam registados, bem como pequenas peripécias que são atribuídas a alguns.
João Mendo, residiu na actual Rua de Santo André, nº2 e dizia para um conterrâneo do seu ano; Eu fui à guerra, tu “meu pachacho” nem à tropa fostes.
Diamantino Raimundo, viveu na Rua do Meio, esquina com a Rua de Santo André. Durante anos, foi ajudante do ferreiro, o ti João dos Santos na Quintã, a bater e moldar o ferro e temperar as ferramentas daí resultantes, nomeadamente relhas e enxadas.
Porfírio Paulos (o rouxinol), o seu carinhoso alcunha, advêm-lhe de gostar de falar e de cantar. Viveu na Quintã, naquela que hoje é a casa com mais mulheres, a da família Manuel dos Santos Bernardino com sua esposa e sete filhas.
António (Antoninho) Pedro Eusébio, que nasceu no Juízo e casou com a samarra Ana Aguiar Eusébio, viveu no fundo povo e gostava muito de falar com os garotos que o chamavam de “barigudo” por causa da sua barriga avançada. Foi o último a falecer.
Antoninho Eusébio
António Marques (o França), alcunha que o filho e neto também herdaram e relembra o tempo que passaram em França como emigrantes.
Este conterrâneo ao terminar a guerra ficou lá pela França, daí o apelido e só 50 anos depois o filho emigrante, conjuntamente com outros emigrantes da leva da década de 1960 conseguiram descobri-lo e diligenciaram para que a sua mulher, a ti Maria do Azevo, se lhe juntasse. Ela, com muitas reservas foi e ele acabou por ficar com as duas e na primeira noite que passou com ela, a outra, a francesa, entrou no quarto deles sorrateiramente e puxou-lhes a roupa da cama. Também nos relataram que discutiam muito porque a francesa tinha muitos gatos e gastava muito com eles. Estes dois samarras marido e mulher acabaram por ser sepultados na terra samarra.
Este conterrâneo ao terminar a guerra ficou lá pela França, daí o apelido e só 50 anos depois o filho emigrante, conjuntamente com outros emigrantes da leva da década de 1960 conseguiram descobri-lo e diligenciaram para que a sua mulher, a ti Maria do Azevo, se lhe juntasse. Ela, com muitas reservas foi e ele acabou por ficar com as duas e na primeira noite que passou com ela, a outra, a francesa, entrou no quarto deles sorrateiramente e puxou-lhes a roupa da cama. Também nos relataram que discutiam muito porque a francesa tinha muitos gatos e gastava muito com eles. Estes dois samarras marido e mulher acabaram por ser sepultados na terra samarra.
Jeremias Carapito que casou nas Avelãs da Ribeira, onde passou a viver e que com frequência se deslocava à aldeia para visitar os seus familiares, montando a sua égua de estimação, bichinho que lhe ficou da arma de cavalaria que foi a sua especialidade na G.Guerra. Para melhor o poderem identificar foi pai daquele que terá sido o primeiro médico filho de pai samarra o Dr. José Guerra e avô do Dr. João Guerra que esteve no Hospital de Pinhel e agora em Trancoso.
Outro samarra por acolhimento temporário e sazonal que se acolhia no cabanal da Ermida ou no do lagar de azeite, desactivado, à entrada da aldeia, foi o cigano Luís Maria, que dizia ser de Santa Maria de Todo Mundo e que a sua consorte a Luísa, quando pedia esmola e azeite dizia, dê-me nem que seja só uma pinguinha, tanto quanto mija uma vaca.
Este soldado da primeira G.G., foi encontrado morto no carreiro dos louceiros, aquele que atravessa as terras do carvalhal, paúl e fareleira. Dizem que, em consequência de uma “malha” que lhe deram num palheiro, numa aldeia próxima, quando se abastecia de gasóleo para o motor da sua camioneta modelo ” carroça”, onde transportava todos os seus haveres de soldado – cigano - nómada.
Portugal ficou fora desse conflito o que não significa que não sofrêssemos as suas consequências, nomeadamente na aldeia em que as nossas mães, connosco ao colo faziam o caminho a pé até Pala para conseguirem um pão na padaria do Sr. Francisco Cerdeira, pai daquela que foi professora de muitos de nós a D. Ana Marques Cerdeira, (D. Aninhas) e por vezes voltavam de mãos vazias. Esta, uma pequena amostra das dificuldades da época. Embora fora do conflito, o povo samarra, para o bem ou para o mal, contribuiu com a exportação do minério, arrancado nos filões da aldeia, para os países beligerantes que o iriam transformar em peças das máquinas de guerra.
Entre a 2ª Grande Guerra e a Guerra do Ultramar aconteceu a invasão da Índia Portuguesa, por onde passaram dois soldados Samarras o José Martinho de 1957/1959 e o marinheiro António Paula Fernandes, que esteve prisioneiro do Jawaharlal Nehru o (Pandit Nehru) durante 6 meses, após a invasão de Goa em 17/12/1961 que, com uma força de 45.000 homens em 18/12/1961 pôs fim a 451 anos de história que nos ensinaram na escola. E assim se começou a desmoronar o Império Ultramarino.
Entre a 2ª Grande Guerra e a Guerra do Ultramar aconteceu a invasão da Índia Portuguesa, por onde passaram dois soldados Samarras o José Martinho de 1957/1959 e o marinheiro António Paula Fernandes, que esteve prisioneiro do Jawaharlal Nehru o (Pandit Nehru) durante 6 meses, após a invasão de Goa em 17/12/1961 que, com uma força de 45.000 homens em 18/12/1961 pôs fim a 451 anos de história que nos ensinaram na escola. E assim se começou a desmoronar o Império Ultramarino.
António Paula Fernandes
Efectivamente, foram necessários estes longos anos para que o saco de
(Continua – 1ª de 2 partes)
Dezembro 2012 (16) Apaulos
Crónica actualizada - 27 Dez
SP
Parabéns,continue assim Samarra!Meu pai sempre fala das dificuldades que os Samarras passaram.Até os pequenos valores eram escondidos a "sete chaves",assim como havia a preocupação premente de participarmos da guerra.Muitos iriam para a frente de combate e nossa história seria outra.
ResponderEliminarA foto acima não é do António França mas sim do António P. Fernandes (filho do Ti João Carloto). Também o irmão deste ultimo, o Elias Fernandes andou na guerra do Ultramar (Guiné) de onde regressou em 1963.
ResponderEliminarCarapito, o artigo é da autoria do António Paulos. Sim, a foto em cima não é do A. França, ficou perto do parágrafo onde se fala do conterrâneo citado por acaso.
ResponderEliminarParabéns APaulos pela crónica. Ao ler,lembrei-me que meu tio Jeremias Carapito também andou na guerra 14/18.Não sei mais nada sobre ele só falando com o filho mais velho que felizmente ainda é vivo.
ResponderEliminarCaro A.Carapito, este samarra Jeremias Carapito foi um conterrâneo que casou e viveu nas Avelas da Ribeira? Sabes mais pormenores sobre a sua vida que possa partilhar connosco? Estou certo que após a sus resposta, os administradores do blogue o incluirão na crónica. Obrigado
ResponderEliminarApaulos
Apaulos, efetivamente é esse mesmo. Pensando melhor recordo-me que quando vinha a Stª.Eufêmia, vinha sempre montado na sua bonita e bem tratada égua e dizia que esse costume lhe vinha do tempo da tropa pois ele era de cavalaria. Era pai do Dr. José Guerra e avô do Dr. João Guerra que muitos Samarras conhecem pois ele dá ou deu consultas em Pinhel.
Eliminardiscordo numa coisa A Paulos, este blogue foi dos que mais defendeu que o nosso heroi do ultramar deverioa ter mais relevo. Lembro-me muito bem, pois acompanho isto desde do inicio, que foram feitos mais que um artigo a defender e a publicitar este nosso conterrâneo samarra.
ResponderEliminarCaro Luís, se a crónica terminasse aqui eu seria mais um a fazer coro com o Luís, mas se bem reparou, esta tem dois tempos e o que foi publicado foi a 1ª parte de duas. A 2ª parte será dedicada aos soldados samarras da Guerra do Ultramar que foi onde o nosso herói perdeu a vida.Estou a tentar arranjar uma foto dele.Registo o seu desconforto que eu compartilho como se depreende pelas primeiras linhas da crónica. Obrigado
ResponderEliminarApaulos
pachacho lol
ResponderEliminarhá muito que não ouvia isto... lol seu pachacho
Parabéns Apaulos e SP. Assim com as fotos e no seu devido lugar,ficamos com uma ideia visual mais completa dos herois samarras do seu tempo.
ResponderEliminarParabens tb. ao A. Carapito que com o seu comentário nos permitiu recordar mais um herói samarra. Cada uns a seu tempo, mas exemplos de coragem samarra não nos faltam.
Um 2013 com saúde para a Nação Samarra
Muito bom A Paulos, ainda não tive o prazer de o conhecer pessoalmente mas estes relatos são importantes principalmente para os mais novos conhecerem um pouco daquilo que é feita a história /fibra dos samarras.
ResponderEliminarObrigado.
Também nunca vi comentários para sentir revolta, enfim...
ResponderEliminarApaulos só agora soube que Portugal esteve à beira de entrar na segunda guerra, e ao lado do monstro só não entramos porque os EU fizeram um últimato para cedermos a Base das Lages, entretanto nesta crise foram mobilizados 3 samarras para guarnecer os Açores,Francisco Monteiro falecido no passado dia 30, Manuel Rodrigues e Jaime Silva. Aos três aqui deixo a minha singela homenagem.
ResponderEliminarÉ bom que de vez em quando, alguém se lembre de trazer para a ribalta algumas destas crónicas, pois elas revelam-nos do muito que nós somos e que os nossos antepassados recentes foram. Obrigada.
ResponderEliminarQUE PRIMOR DE PROSA, SE ESTE NÃO SE DESSE AO TRABALHO DE A FAZER, VEJAM QUE TESOURO SAMARRA SE PERDIA PARA SEMPRE, OU MELHOR NÃO SE TERIA PERDIDO PORQUE TAMBÉM NINGUÉM O TINHA ACHADO. BEM-HAJA SR. ANTÓNIO
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