(2ª. Parte)

Quanto à Guerra do Ultramar, para os Portugueses e de Libertação para os países africanos independentistas, durou de 1961/1975 e começou com o anseio reivindicativo daqueles povos à sua autodeterminação e independência, quando a maioria das outras nações já haviam abandonado as suas antigas colónias.
A Metrópole viu-se envolvida em três frentes de guerra em simultâneo;
Primeiro Angola 04/02/1961, a Guiné-Bissau em Julho do mesmo ano e por último Moçambique 24/09/1964. Cerca de 600.000 portugueses lutaram em África, tendo perdido a vida, 3.250 em Angola, 2.962 em Moçambique e 2.070 na Guiné-Bissau, comparativamente, devido à sua pequena dimensão territorial, foi onde morreram mais portugueses, dai ser chamada o Vietnam Português. Total, 8.290 mortos, cerca de 30.000 feridos com mais de 15.000 deficientes, foi o preço em vidas destas guerras.

Para estas três frentes de guerra foram mobilizados dezenas de Soldados Samarras, quer na Metrópole, mas também nos cenários de conflitos, para onde alguns partiram na procura de um outro modo de vida, sobretudo para Angola e Moçambique.
Uns e outros, foram arrancados aos seus empregos ou aos bancos das escolas, onde procuravam uma qualificação média ou superior e ainda outros às minas de urânio ou às tarefas dos campos samarras.
Quando a Pátria os chamou, todos responderam presente e foram integrados nos contingentes que constantemente partiam da Rocha Conde de Óbidos - Lisboa, nos barcos que foram paquetes de cruzeiros e agora, transformados em barcos de transporte de tropas, sempre superlotados e longe das comodidades do conceito de paquetes. Uns foram como praças, outros como sargentos e ainda outros com oficiais e todos honraram a terra samarra.
Para que os seu nomes não se percam para sempre, como de certo aconteceria com os heróis da 1ª Grande Guerra, vamos procurar referir os nomes do maior número possível dos que participaram nesta guerra, com desculpa para os que possamos omitir, mas que poderão ser acrescentados nos comentários.

Os primeiros a partir em 1961 foram, Alberto Luís e Amílcar Rodrigues para Angola e Elias Paula Fernandes para a Guiné-Bissau.
O primeiro entre todos, foi o Daniel Lopes Dias, que na pujança da juventude, 22 anos, pagou com o supremo dom da vida o “pronto” ao chamamento da Pátria, em Moçambique no dia 21 de Setembro de 1970, vítima de uma mina.

Daniel Lopes Dias

A placa toponímica no Largo com o seu nome na casa onde nasceu, agora devidamente identificada, foi a homenagem com que a Comunidade Samarra achou por bem perpetuar o seu nome.
Outros, sofreram na carne danos físicos irreparáveis ou psicológicos, estilhaços e sequelas que carregam no dia a dia e para o resto da vida, por outro lado, também foi uma oportunidade para muitos conhecerem uma parte de África e que lhes abriu os olhos e a mente a novos horizontes. Alguns, desta década e que aqui não constam, ou voltaram à aldeia com a fita branca na banda do casaco aquando da inspecção militar, ou já tinham emigrado, fugindo à miséria e mesmo à guerra do Ultramar.
Há dias, um conterrâneo ex-combatente recordava-me os aerogramas os “bate estradas”, amarelos e verdes, tipo subscritos como os que as Finanças nos enviam para pagamento do IRS ou IMI, que nos punham em contacto com os nossos familiares ou madrinhas de guerra, muitas delas brasileiras e que eram lidos e relidos com avidez.
Tanto traziam as boas como as más notícias, que nos deixavam esfusiantes ou tristonhos e que partilhávamos com um amigo, aquela boa notícia ou o desabafo das lágrimas contidas, quando anunciavam uma desgraça que na aldeia tinha acontecido.
Não raro, éramos surpreendidos com a presença inesperada de um conterrâneo ou de um amigo. A mim aconteceu-me, nomeadamente, um dia encontrar o Pe. Carlos Moita, (R.I.P.), como capelão militar e que, quando eu fui para a Guiné-Bissau em 1966, era o pároco da aldeia samarra. De certo que muitos se recordarão dele.
Feita referência aos primeiros a partir e ao nosso herói o Daniel, vamos agora elencar por ordem alfabética os nomes daqueles que conseguimos referenciar, ficando o desafio a quem conheça outros nomes de os adicionar nos comentários, para que os administradores do blogue os incluam no respectivo lugar na crónica.

Alberto Joaquim, Alberto Luís, Alfredo Carapito, Amílcar Rodrigues, Antonino Paula, Antonino Santos Paulos, António de Jesus, António Paulos, António Pedro Silva (RIP), António Rodrigues, António Santos e Avelino Fernandes;
Daniel Lopes Dias (RIP) e Delfim Paula (RIP);
Elias Paula Fernandes, Elias Raposo Ferreira;
Francisco Jesus Mendo;
Humberto Raposo Ribeiro;
João António Mendo, Joaquim Raposo Ribeiro, José Ferreira Paula, José Inácio Fernandes, José Jaime, José Jesus Mendo, José Lima, José Paula Fernandes, José Paula Monteiro, José Raposo Ferreira (RIP), José Raposo Ribeiro, José Santos Paulos;
Madail Santos Paulos, Manuel Messias Monteiro, Manuel Paula Fernandes, Manuel Santos Paulos, Messias Paula Fernandes;
Pedro Inácio Fernandes;
Ricarte Santos Silva;
Silvestre Raposo Ribeiro.

Esta foi a Geração Samarra, nascida nas décadas de 1940/1950 do século passado, a geração mais qualificada de sempre, até então, que viu os seus projectos de vida adiados, para responder “pronto” à Mãe Pátria.
Agora estamos certos que os Samarras que lutaram pela nossa identidade não serão esquecidos. 
Honrar os combatentes é celebrar Portugal - (Professor Doutor Manuel Antunes em: Homenagem da Pátria aos seus melhores servidores – 10 de Junho de 2012).
Não podíamos terminar sem deixarmos um preito de homenagem às nossas mães que, muito sofreram, que muitas lágrimas salgadas deixaram cair pelos seus rostos, enquanto não voltámos e algumas só souberam que tínhamos partido, quando já nos encontrávamos nos cenários dos conflitos.

E não olhando só para o nosso umbigo, nestes anos, no mundo foi acontecendo:
1961- Foi o ano da construção do Muro de Berlim, do assassinato de Patrice Lumumba líder da independência do Congo, foi o ano em que a URSS enviou Yuri Gagarin para o espaço, iniciando assim, como país, a sua carreira espacial,
1962- Devido à crise dos mísseis o mundo esteve à beira de uma Guerra Atómica, fim da Guerra da Argélia e realiza-se o Concilio Vaticano II da Igreja Católica
1963- John F. Kennedy , Presdente dos USA é assassinado em Dallas, Valentina Terehkova da URSS, foi a primeira mulher que viajou para o espaço,
1964- Envolvimento, presencial, dos USA na Guerra do Vietnam apoiando o Sul, enquanto o Norte tinha o apoio da URSS,
1965- Morre em Londres Winston Churchill e é assassinado nos USA Malcolm X,
1966- A sonda soviética Lunik 9 é o primeiro objecto construído pelo homem a pousar na Lua, seguida no mesmo ano pelo satélite Surveyor I dos USA.,
1967- Guerra dos seis dias entre Israel e Árabes e o assassinato de Ernesto Guevara,
1968- Assassinato de Martin Luther King, a revolta de Maio dos estudantes em França e o assassinato de Robert F. Kennedy em Los Angeles,
1969- A XI missão Apolo, leva Neil Armstrong à Lua, o primeiro ser humano a pisá-la e aconteceu o maior festival mundial da história de Rock em Woodstock,
1970- Morre em Paris, Charles de Gaulle e no Cairo, Gamal Abdel Nasser,
1971- A República P. da China é admitida na ONU e a Intel cria o 1ºMicroprocessador,
1972- Nos Jogos Olímpicos de Munique são assassinados 11 atletas Israelitas,
1973- A ETA em Espanha assassina o presidente do Governo Luís Carrero Blanco,
1974- Dá-se em Portugal a 25/04 a revolução dos cravos.
1975- Independência das ex-províncias Ultramarinas e o nascer de novas nações, fim da guerra do Vietnam e foi neste ano que faleceu F .Franco e subiu ao trono em Espanha o Rei D. Juan Carlos I.
Fica um bem haja a quem me ajudou a recordar alguns dos nomes samarras referidos.


Dezembro 2012 (17) Apaulos


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  1. muito bem. A lista refere-se aos samarras que andaram no ultramar?

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  2. O senhor tem cunho para historiador, mas deve ter a sensibilidade de referir toda a lista dos combatentes. Caso contrário, é uma falácia um logro de crónica. Vá à torre do tombo e PUBLIQUE a lista de todos por favor, não caia no facilitismo proxeneta da coisa!
    Ou então fica como tendencioso e anacrónico.

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    1. ui!!nao digas isso senão o homem ainda da um tombo lá,eu tb la andei,em angola e nao publicou o meu nome,mas não levo a mal,e por acaso encontrei o sr padre carlos moita no r.i.20 em luanda,diziam que os capelões tinham grande influencia perante as hierarquias,fui-lhe pedir a ver se me safava de uma porrada,mas disse-me logo que nao podia fazer nada(fiquei desapopntado) e como tal apanhei 15 dias de prisão com gravata e z.o.(para quem entenda)porque eu era c.a.r.e tinha o pé pesado...era a idade

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  3. eu não fui à tropa, por isso traduzam lá essas cenas do z.o e r.i e o etc e tal

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    1. cambojano:
      r.i.=regimento de infantaria
      z.o.=zona operacional(frente de combate,teatro de operações)
      c.a.r.=condutor auto rodas.

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  4. De Anónimo para o Anónimo das 11.29
    Os Soldados Samarras que fizemos a Guerra do Ultramar tinham todos nome. O autor da crónica escreveu "vamos procurar referir os nomes do maior número possível dos que participaram nesta guerra, com desculpa para os que possamos omitir, mas que poderão ser acrescentados nos comemtários" Ora o Anónimo diz que tb.esteve na guerra de Angola. Assim como Anónimo, os Adm. do Blogue não o poderão incluir na crónica. Fica a dúvida, será efectivamente Samarra? Ainda bem que o Apaulos não o descobriu e tb. ninguém lhe referiu o seu nome,uma vez que não gostaria de fazer parte deste grupo de Soldados Samarras.
    Saudações Samarras para 2013

    P.S.: Consta que o José Raposo Ferreira (R.I.P.) tb. terá sido incorporado quando estava em Angola. Vou procurar certificar-me.

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    1. para o anonimo das 11.29:
      sem duvida!efectivamente samarra!mas dou-lhe toda a razão,optei por escrever algo e manter-me no anonimato,poderia abster-me de escrever e nada!
      um bom ano para todos os samarras

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  5. tudo boa gente, ninguém tenha dúvidas, são apenas samarras que têm nas veias uma grande dose de aldosterona.
    Boas festas!

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  6. Por minha parte e dos meus pais ficamos gratos ao Blogue, ao Apaulos e a todos os que com sensibilidade e memória têm procurado “perpetuar” e honrar a memória do meu tio, não deixando de referir todos os outros que estiveram "ao lado" do meu tio. Um muito obrigada.
    Andreia

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  7. Uma geração especial de Samarras... todos tiveram pai e mãe e todos,uns e outros sacrificados, viveram e sentiram a angustia e a dúvida se se tornariam a ver. Todos merecem o nosso respeito.

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  8. Crónicas como estas, marcam recordando, quem foram e são os SAMARRAS e disto todos nos devemos orgulhar sempre que foi preciso marcámos presença.

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  9. AQUI, 38 VALOROSOS "SOLDADOS SAMARRAS", MAIS DO QUE UM PELOTÃO. SAÚDE AOS QUE AINDA CÁ ESTÃO E (RIP) AOS QUE FORAM À NOSSA FRENTE. SAUDAÇÕES SAMARRAS.

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  10. Onze anos depois desta prosa, dá para recordar os Samarras que se sacrificaram pela Pátria e só é possível devido a quem se deu ao trabalho de a escrever e publicar; por isso bem-hajam.

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