Do último livro de Nuno Crato, "Passeio Aleatório pela Ciência do Dia-a-Dia" (Gradiva), lançado hoje (09/04/10) em Lisboa, transcrevemos um dos aliciantes trechos:
Em 1949, a Força Aérea norte-americana fez uma série de experiências para medir as reacções do corpo humano a acelerações elevadas. Para tomar as medidas, era preciso fixar aparelhos ao corpo de pilotos. Cada aparelho podia ser montado apenas de duas formas: uma certa e uma errada. O engenheiro que concebeu a experiência mandou instalar 16 desses aparelhos, de forma a melhorar a precisão das observações e reduzir as hipóteses de erro. Pois o técnico que os instalou conseguiu montá-los todos na forma errada e a experiência falhou.
O engenheiro chamava-se Murphy e, desapontado, formulou a célebre lei que toma o seu nome: «Se há uma maneira errada de fazer as coisas, então é certo que alguém as fará mal.» No dia seguinte, o piloto que tinha sido cobaia no teste, major John Stapp, deu uma conferência de imprensa. Transmitiu a reacção de Murphy, embora de forma um pouco diferente: «Se algo pode correr mal, então é certo que vai correr mal.» Alguns repórteres decidiram incluir esta frase nas notícias e o dito ficou conhecido como Lei de Murphy.
Esta lei pessimista é invocada quando algo corre mal, havendo esperanças de que tal não acontecesse. Um exemplo típico entre brasileiros é «a fatia da tosta cai sempre no chão com a manteiga para baixo». Mas há outros exemplos habitualmente citados: «a parte mais importante de um fax é sempre aquela que aparece menos legível», ou «só se têm furos nos pneus quando se tem pressa», ou ainda «os computadores só são atacados por vírus quando não se fizeram cópias de segurança dos ficheiros».
Na realidade, como toda a gente sensata reconhece, a Lei de Murphy é apenas uma ironia e a sua aparente aplicabilidade generalizada é uma ilusão psicológica. Invocamo-la quando algo corre mal e esquecemo-la sempre que as coisas correm bem. Em geral, o nosso cérebro faz automaticamente uma selecção dos casos que parecem ajustar-se ao padrão que se procura. No que se refere à Lei de Murphy, em particular, estão em causa situações desagradáveis, que por isso se recordam mais persistentemente: lembramo-nos daquele dia azarado em que um furo no pneu nos fez perder o avião e esquecemo-nos das vezes em que não tivemos nenhum problema e chegámos a horas ao aeroporto.
Recentemente, alguns cientistas discutiram seriamente a Lei de Murphy. O físico Robert Matthews, por exemplo, deu-se ao trabalho de fazer experiências com tostas e verificou, como seria de esperar, que, sendo estas atiradas ao ar, a probabilidade de caírem com a manteiga para baixo é 1/2. No entanto, se as tostas rolarem de uma mesa com cerca de 80 cm de altura, como é habitual, a probabilidade de caírem com a face barrada para baixo é muito superior. A razão é simples, verificou o mesmo físico. É que, a essa altura, as tostas apenas têm tempo para fazerem meia volta. Se as mesas tivessem dois metros de altura, então as tostas cairiam preferencialmente com a face barrada para cima.
O artigo de Matthews discute ainda outras pretensas manifestações da Lei de Murphy e conclui serem resultados perfeitamente explicados pelas leis da física e pela teoria das probabilidades. A lição é simples: em vez de procurar explicações na fatalidade ou na premonição, vale a pena usar a cabeça e a ciência para tentar explicar os fenómenos. Entendida como graça, a Lei de Murphy tem a sua piada. Enquadrada no reino da superstição, nem piada tem.
http://www.humornaciencia.com.br/miscelanea/murphy.htm
Em 1949, a Força Aérea norte-americana fez uma série de experiências para medir as reacções do corpo humano a acelerações elevadas. Para tomar as medidas, era preciso fixar aparelhos ao corpo de pilotos. Cada aparelho podia ser montado apenas de duas formas: uma certa e uma errada. O engenheiro que concebeu a experiência mandou instalar 16 desses aparelhos, de forma a melhorar a precisão das observações e reduzir as hipóteses de erro. Pois o técnico que os instalou conseguiu montá-los todos na forma errada e a experiência falhou.
O engenheiro chamava-se Murphy e, desapontado, formulou a célebre lei que toma o seu nome: «Se há uma maneira errada de fazer as coisas, então é certo que alguém as fará mal.» No dia seguinte, o piloto que tinha sido cobaia no teste, major John Stapp, deu uma conferência de imprensa. Transmitiu a reacção de Murphy, embora de forma um pouco diferente: «Se algo pode correr mal, então é certo que vai correr mal.» Alguns repórteres decidiram incluir esta frase nas notícias e o dito ficou conhecido como Lei de Murphy.
Esta lei pessimista é invocada quando algo corre mal, havendo esperanças de que tal não acontecesse. Um exemplo típico entre brasileiros é «a fatia da tosta cai sempre no chão com a manteiga para baixo». Mas há outros exemplos habitualmente citados: «a parte mais importante de um fax é sempre aquela que aparece menos legível», ou «só se têm furos nos pneus quando se tem pressa», ou ainda «os computadores só são atacados por vírus quando não se fizeram cópias de segurança dos ficheiros».
Na realidade, como toda a gente sensata reconhece, a Lei de Murphy é apenas uma ironia e a sua aparente aplicabilidade generalizada é uma ilusão psicológica. Invocamo-la quando algo corre mal e esquecemo-la sempre que as coisas correm bem. Em geral, o nosso cérebro faz automaticamente uma selecção dos casos que parecem ajustar-se ao padrão que se procura. No que se refere à Lei de Murphy, em particular, estão em causa situações desagradáveis, que por isso se recordam mais persistentemente: lembramo-nos daquele dia azarado em que um furo no pneu nos fez perder o avião e esquecemo-nos das vezes em que não tivemos nenhum problema e chegámos a horas ao aeroporto.
Recentemente, alguns cientistas discutiram seriamente a Lei de Murphy. O físico Robert Matthews, por exemplo, deu-se ao trabalho de fazer experiências com tostas e verificou, como seria de esperar, que, sendo estas atiradas ao ar, a probabilidade de caírem com a manteiga para baixo é 1/2. No entanto, se as tostas rolarem de uma mesa com cerca de 80 cm de altura, como é habitual, a probabilidade de caírem com a face barrada para baixo é muito superior. A razão é simples, verificou o mesmo físico. É que, a essa altura, as tostas apenas têm tempo para fazerem meia volta. Se as mesas tivessem dois metros de altura, então as tostas cairiam preferencialmente com a face barrada para cima.
O artigo de Matthews discute ainda outras pretensas manifestações da Lei de Murphy e conclui serem resultados perfeitamente explicados pelas leis da física e pela teoria das probabilidades. A lição é simples: em vez de procurar explicações na fatalidade ou na premonição, vale a pena usar a cabeça e a ciência para tentar explicar os fenómenos. Entendida como graça, a Lei de Murphy tem a sua piada. Enquadrada no reino da superstição, nem piada tem.
http://www.humornaciencia.com.
Claro que é mais fácil cair no pessimismo porque tudo leva nesse sentido.
ResponderEliminarDifícil é acreditar no positivismo, e acreditar que tudo vai correr bem.
No final de contas, é mais fácil rumar com a maré (do pessimismo)do que rumar contra.
a lei de Cork, é uma lei fdp! é a lei de nada fazer com a bênção dos estúpidos.
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