Manhã cedo, num dia de verão, entra um viajante com ar cansado e cenho crispado na taberna de um judeu em Pinhel, para matar o bicho e pedir umas informações.
Bom dia senhor, bons dias amigo, ainda o dia é uma criança e parece cansado e amargurado, será que vem de longe? Antão não houver de estar, pois é verdade que venho de longe! Sabe onde é a terra da alfarroba? Não me diga que vem da serra algarvia? Pois venho sim senhor.
Ainda que mal lhe pergunte, o que é que o traz à nossa linda cidade de Pinhel?..
Bem, o que eu quero mesmo é ir a uma terra chamada Santa Ofêmia; O senhor sabe-me dizer se ainda estou longe e qual é o melhor caminho para lá para mim e para a besta?
Hum, e o que o leva a querer ir a esse lugar tão distante?
Venho em demanda dum “filho de um cabresto”, para ajustar contas com ele, pois anda a visitar a minha mulher lá no monte e agora também já a moça. A terra que o viu parir também o há-de comer, que a serra algarvia não tem estômago para tragar tais fígados.
O taberneiro apercebendo-se que o algarvio não vinha por bem, embora lhe reconhecesse o direito a lavar a sua honra, a ser verdade o que lhe acabava de revela e vendo que tinha no bolso uma” fusca”, tinha de evitar uma desgraça anunciada, ainda que para isso tivesse de exagerar nos adjectivos e pintar a manta bem preta.
Diz-lhe o taberneiro, tome lá o mata-bicho e ponha o saco da alfarroba no focinho da mula que nós já conversamos.
Então, já tem o estômago mais aconchegado não é verdade? Até tem outro ar homem!
E pedindo licença senta-se na mesa do algarvio e diz-lhe:
O amigo já vem de muito longe, mas ainda nem chegou ao meio de caminho e com a torreira que aí vem e o sol daquela terra é tão traidor como a sua gente, que não é flor que se cheire, pois consta que muitos já lá entraram, mas ninguém os viu entrar e muito menos os viram sair, por essas paragens, além dos escorpiões debaixo das pedras, dizem que também se escondem aí ladrões. Aceite um conselho sincero de um amigo de ocasião. O amigo é o único que sabe o que os outros não sabem! Volte pois para o monte, senão, temo que a sua mula não volte a comer alfarroba algarvia, e o senhor seja “um cadáver adiado” Fernando Pessoa. O senhor acha mesmo? É o que lhe digo amigo.
O compadre algarvio, que já considerava o judeu um homem de bem e bem informado, embora ofendido na sua honra, e com a figadeira a escumar de raiva, meteu o rancor entre as pernas, aceitou o conselho do taberneiro, montou na sua mula e voltou para a serra algarvia amargurado mas são e salvo.
Assim o judeu salvou o macho samarra, quem diria! Diz o outro, que este era um judeu já convertido pois até tinha um compadre samaritano.
Como não é possível tirar a limpo a veracidade desta história porque se desconhece o C.P. do monte onde vive o algarvio, também não se ouviu o macho samarra, porque o seu depoimento sem o contraditório seria de duvidosa credibilidade.
Resta-nos acreditar e louvar a atitude do bom judeu.
Texto: Apaulos
Outubro 2012 ( 12 )
gente estranha e perigosa! Cuidado!
ResponderEliminartipo goldman sachs.
ResponderEliminara intenção foi boa paulos,a invenção tb, faz me lembrar de quando me contavam as historias dos ladrões quando eramos pequenos...try again!
ResponderEliminarÉs tu Soldier? Pareces-me tu meu rapaz.. tens o mesmo paleio..
EliminarA história é muito gira!!!
ResponderEliminarNão entendo este último comentário, só pode ser do Matrix Gob
olha que eu até acho muita piada ao anónimo das 22.49. Acho que tem qualquer coisa de je ne sais quoi... mas em inglês.. :)
Eliminarahahahahah
Eliminar(ooops)...se me olvidó!
ResponderEliminar(soldier)
Soldier seu cão vadio, andavas desaparecido!!! És como o Fernando Pessoa
EliminarGostei, mas será que o Apaulos nos pode dizer qual o grau de veracidade/ficção desta crónica?
ResponderEliminarestamos a falar de cavalos?
ResponderEliminarRespondendo ao ANÓNIMO de 23.10, o que por principio não gosto de fazer, a crónica é verdadeira mesclada de ficção e o segredo das personagens só foi revelado ao taberneiro.
ResponderEliminara nossa terra é mesmo linda. Parece um jardim! Fosga-se!
ResponderEliminarEu sei que o fundo da narrativa é verdadeiro; o A.Paulos é que não quis expor os nomes Samarras na crónica. Boa prosa .Obrigado
ResponderEliminardesconhecia esta estória :)
ResponderEliminarNão consigo deslindar quem possa ser, já que dizem que a história é verdadeira!....
ResponderEliminarDiziam que era uma estória criada/inventada, pelo autor, agoraque ele nos confirma que não é invençaõ descubram a personagem," do macho Samarra"!...
ResponderEliminarNão sei quem foi o macho-Samarra, mas que é uma pequena-grande história é e ainda por cima a ser verdade está muito bem contada sem revelar o dito cujo. Boa prosa.
ResponderEliminarQue delícia de prosa, para quem conhece estes recantos.
ResponderEliminarJá passaram mais de cincoanos, já podemos conhecer os personagens da prosa?
ResponderEliminarSó agora é que percebi o título da crónica; é que os de Pinhel são chamados de judeus o que desconhecia. Muito boa
ResponderEliminarA cena, em Pinhel, não se passou numa taberna, mas sim numa ourivesaria, onde o ofendido procurou informações, sobre; se ainda estaria longe de "Santa Ófemia". A cena foi deslocada para uma taberna porque na altura havia muitas, enquanto que a ourivesaria na Rua Direita, era única e quem conhecesse o S. Freitas, poderia ficar a conhecer o segredo; "QUEM ERA O MACHO SAMARRA". Hoje como os dois já cá não estão, só a quem foi revelado o segredo e me o contou poderia confirmar a história, que é verdadeira. Saudações Samarras e protejam-se do "Corona". P.S.: Acabo de ler que em Espanha um velhote para poder sair à RUA foi passear um cão em peluche, mas foi multado e obrigado a recolher a casa.
ResponderEliminarNa sequência do "Corona"; o Espanhol queria ir à Rua e para ludibriar os policias espanholes comprou um peluche para o passear, mas acabou por ser multado e teve que recolher a casa. Portem-se bem e fiquem em casa.
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