As torres sineiras, de uma maneira geral estão junto das igrejas, a nossa não está ou por outra deixou de estar, a igreja edifício é que se deslocou, presumo que, quando os fidalgos puseram a capela da sua casa senhorial, a casa grande, ao dispor da população e dela fizeram a sua igreja.
Quando na aldeia, coincide encontrar-me com a minha sobrinha-neta pede-me, desde pequenita, para dar uma volta com ela à aldeia, vamos à ronda como diríamos antigamente. Ela tem um fascínio pelo toque dos sinos e está sempre pronta para os ir ver e um dia, ainda de colo, pediu se podia tocar-lhes e fiz-lhe a vontade.
São estes SINOS que vigilantes do alto da torre sobre a aldeia e que o Sr. José Fernandes o ti Zé Sacristão toca como ninguém, que muitos e relevantes serviços têm prestado aos Samarras.
Era na torre sineira que estava montado o mecanismo de horas, na época em que poucos tinham relógio e nos avisava do decorrer das mesmas, bastava contá-las, pois difundia o som das suas badaladas com a ajuda do vento, quando de feição, a quase todos os cantos do território Samarra.
Continuam a ser os SINOS que nos chamam para os deveres dominicais, festivos e não só, despacha-te que já tocou a do meio e não tarda tocar a última.
Foram e são os SINOS que dão a notícia, a muitos em primeira mão, que mais um dos nossos foi chamado para a última viagem, se são duas badaladas ritmadas é mulher e se são três é homem,convidando os seus conterrâneos a ajudarem a aliviar a balança das almas para se apresentarem diante do Criador.
Também era o SINO que, gritando por nós no seu toque a rebate nos acordava de sobressalto durante a noite, para acudirmos e apagarmos um fogo na casa ou palheiro de qualquer Samarra, dever que ninguém regateava fosse a que horas fosse do dia ou da noite, saindo de casa a correr ou abandonando os campos, com uma vasilha, cântaro ou caldeiro com a pouca água que pudesse haver em casa, não a havia canalizada, e procurando o poço mais perto da fatídica ocorrência, para assim ajudar à sua extinção. Chamar os bombeiros para a sede concelho estava fora de questão, pois se os havia não havia meios de comunicação para os chamar, nem estradas para que pudessem chegar em tempo oportuno. Isto era altruísmo Samarra, que nem ao inimigo ocasional se negava, na desgraça, todos por um e um por todos.
Foi o SINO que tocando a rebate nos levou a todos à Ermida, por caminhos laterais ou linhas de água, quais soldados, armados de forcadas, roçadoras e foices, evitando assim a GNR, para defendermos o que era nosso, quando os de Pinhel a saquearam. Um dos heróis desta época foi o Sr. Armando Eusébio.
Vem esta crónica a propósito do roubo desenfreado de cobre, nomeadamente de sinos, que se vem verificando por todo o país. Estarão os nossos tão prestimosos SINOS a salvo dos bárbaros gatunos?

Texto: António Paulos
            Abril 2012 (2)

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  1. Parabéns António Paulos (não sei se é o do sr. Gilberto ou o da sra Marina).
    De qualquer modo, devo dizer que encontro aqui nesta crónica uma descrição fiel do que os sinos nos proporcionaram no passado e ainda hoje é usual,parar por instantes (quando as pessoas andam no campo), para contar as badaladas e assim sabermos ás quantas andamos....porque o relógio no pulso não dá lá muito jeito no exercício agrícola....CR52

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  2. SP, estou com pouca rede aqui na aldeia, não se pode ter tudo... Quando puder sair aqui de casa já te ligo.

    Hérnia Inquinada

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  3. Sim é o do Sr. Gilberto.

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  4. Quanto ao assunto da proteção da ermida não foi apenas o sr Eusébio, o ti Fexisco e o Jaime Grande foram também heróis. Não esquecer que o ti Zé Fexisco teve preso e perdeu tudo para sair de lá para além da grande sova que levou, chegou a ser dado como morto.
    Ainda sobre este tema, uns levaram um regador a pensar que era um fogo mas ao invés outros levaram uma arçadoira.

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  5. e o pote de veneno? o pote de veneno que é o lá de cima, gordinho que nem um texugo e venenoso que nem uma osga laminada, o do golf que tem nome de pantera negra

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  6. Parabens pela cronica Antonio Paulos.Uma das melhores lembranças que temos da terra é o sino e seus toques.Para nós que vivemos no Brasil,só de lembrar, já dá saudades.

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  7. exelente artigo tónio,muito mais havia para narrar,lembro-me que por altura da pascoa ou natal,as belgas eram o terror dos garotos,ou viçe-versa,todos gostávamo de ir la em cima nessas alturas fazer o gosto ao dedo,com um olho no sino e outro no portão das belgas,e tocar uma carreirinha,enquanto o padre andava a tirar o fular,quantas vezes tive que saltar as as escadas desde o meio para me safar do pau das belgas...saudades

    (soldier)

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  8. Esta crónica foi valorizada pela inserção, indispensável e oportuníssima, da foto dos sinos pelo jovem Sérgio Paula. Estou certo que outras parcerias irão surgir. Obrigado.

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  9. os novos belgas Soldier também me deram algum trabalho mas eu fintava-os bem... bons tempos que saltava lá de cima para um monte de areia ou que dava a volta à cava do relógio de olhos fechados... praticamente...

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  10. Parabéns.
    Descrever fatos e costumes é manter viva a história!

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  11. Gostei... O grande herói da ermida foi o xisbie! O pantera negra e mais tipo veneno!

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