Artigo com 45 anos e extraído do Jornalinho “O CONVITE”- nº 3, que, para  quem ainda tem memória, foi a primeira tentativa de uma publicação pelos jovens estudantes Samarras de então, mas por dificuldades várias, de entre elas, a de comunicação entre eles, ficou-se por cerca de uma dezena de números e tinha 8 páginas em formato A5.

O autor deste: José Paula, que à data teria 23 anos e que nos deixou muito jovem, num acidente na Guarda, quando teria 27 anos. Zé RIP.

Puzzle de fotos da Aldeia, que de certo encantavam o ZÉ PAULA. (DO BLOG)

Cada noite que cai é um dia de trabalho que acaba… é mais uma longa e dura experiência vivida, a que a luta do dia a dia nos obriga.                                             

Vivemos permanentemente preocupados com a resolução dos nossos problemas. Numa ânsia constante de melhorarmos as nossas condições de vida.                                      

Esta rotina do lufa-lufa dos trabalhos diários entorpecem em nós a sensibilidade em relação a pormenores que se passam à nossa volta e que se lhe prestássemos um pouco de atenção poderiam amenizar e aumentar o gosto de viver. Já pensaram no quadro deslumbrante que veríamos se um dia nos dessemos à pachorra de observar toda a azafama da nossa aldeia?                                                                                        

Depois de o galo cantar o lavrador começa já a tratar do “vivo”, alimentando as vacas para o trabalho árduo que durante o dia lhe vai exigir sob pressão metódica de um forte aguilhão que faz o desespero dos bois e a satisfação do picador.                      

Antes de o sol se elevar triunfante e jovial no horizonte já o reboliço é completo na nossa terra.                                                                                                                                       

A enxada ocupa o seu lugar majestático assente nos ombros de cada um de nós manuseada por mãos fortes e calejadas pelo uso habitual da “caneta” que escava a terra. Entretanto o vizinho do lado vai colocando a “albarda” ás burras, enquanto o cãozito eufórico depois de ter dado uma corrida para desentorpecer as pernas circunda o seu dono abanando o rabo e latindo meigamente como que a dar os bons dias.                                                                                                                                          

Depois toda a gente se dirige para os campos e após ter feito o sinal da cruz como que a pedir a Deus para abençoar os seus trabalhos, começa o bater compassado da enxada sobre a terra dura que pouco a pouco vai devorando a terra, regada com gotas de suor que com frequência pingam da cabeça do cavador, como consequência do seu esforço agravado pela rigidez do sol.                                                                                      

Que sinfonia de sons nós ouviríamos, se um dia á noite nos esquecêssemos dos nossos problemas e escutássemos a voz da natureza e nos deixássemos enlevar pela sua melodia. O rouxinol mais atrevido começa já no “ribeiro castinheiro” a sua melodiosa serenata desafiada por um grilo que entoa o seu canto alegre.                                               

E a noite vai caindo ouvindo-se o latir dos cães que cumprem a sua missão de vigias da aldeia. José Paula.  

Nota: As fotos das minhas prosas neste nosso “Blog”, umas são da autoria dos administradores do Blog, outras tiradas das muitas que aparecem nas publicações sobre a aldeia e postadas por vários Samarras e outras minhas, não tendo o rigor de indicar quem são os seus autores, umas vezes por dificuldades de identificação, outras porque não é possível, mas a todos e a cada um o ” bem-haja” dos  Samarras.

Outubro 2020 (71-4)

Apaulos


5 comments Blogger 5 Facebook

  1. Fantástico! A juventude inquieta samarra no seu melhor. Um jornal! O latir dos cães que cumprem a sua missão de vigias da aldeia... Hoje nem um galo pode cantar.
    Excelente crónica. Obrigado.

    ResponderEliminar
  2. Muito interessante, desconhecia o "O convite". Haverá ainda alguém que tenha algum exemplar?

    ResponderEliminar
  3. Parabens pelo resgate Antonio Paulos.Excelente crónica .

    ResponderEliminar
  4. Claro que há e o Apaulos lá descobre o escondido, para continuar a mimar-nos como foi e homenagear os nossos Samarras. Bem-hajas mais uma vez Apaulos e manda outras cá para fora.

    ResponderEliminar
  5. Parabéns, tenho uma vaga ideia do Convite. Pelo que leio nos comentários penso que seria interessante publicar uma foto do dito. Abç.

    ResponderEliminar

 

O Samarra © 2008-2022. Todos os direitos reservados.
Top