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Com um sistema económico débil, uma indústria incipiente e em constante crise, sem condições dignas ao nível da saúde, educação e cultura, o interior está assim quase moribundo. Sem opções, com a crise na agricultura – trucidada que foi pela Política Agrícola Comum, onde só sobreviveram os grandes latifúndios –, a saída foi a única hipótese. Os sucessivos Governos não conseguiram ou nem quiseram – ou se calhar nem tinham essa noção – que a entrada de Portugal no espaço comunitário iria ter um impacte brutal na economia rural. E que se não fossem encontradas alternativas económicas, o mundo rural desertificava-se e definhava. 
Deixou-se passar uma década e os resultados estão aí. O recenseamento agrícola de 1999 constatou uma diminuição de cerca de 183 mil explorações em relação à década anterior – um decréscimo de 31 por cento – e o desaparecimento de uma em cada três explorações com menos de cinco hectares. Em apenas uma década “desapareceram” quase 750 mil trabalhadores agrícolas, muitos dos quais sem alternativa de emprego no mundo rural ou citadino. Tanto mais que a população que trabalha na agricultura nacional tem ainda níveis de iliteracia assustadores: 34 por cento não têm qualquer nível escolar e outros 57 por cento não mais que o ensino básico. 




Mas isto são problemas com quase nenhum peso político. Hoje, graças ao método de Hondt, o interior está também votado ao esquecimento político, por muito que os partidos e o Governo insistam em querer mostrar o contrário. O “interior político” tem uma voz cada vez mais sumida à medida que se transforma num deserto de pessoas e de ideias. Se Portugal fosse uma democracia em 1950, os deputados eleitos pelos oito distritos do interior do país ocupariam 27 por cento dos lugares do hemiciclo. A desertificação humana faz com que sejam, actualmente, apenas 16 por cento dos deputados da Assembleia da República. 
De resto, sem excepção, os sucessivos governos da Nação preocuparam-se mais com aspectos transcendentais da política e menos com o encerramento sucessivo de mais de meio milhar de escolas primárias nos distritos do interior, por falta de jovens e de casais novos. Pouco fizeram, para além das palavras de circunstância e das promessas em romarias eleitorais, para solucionar as crescentes dificuldades na satisfação das necessidades sociais, médicas e culturais mais básicas das populações dos concelhos rurais. Inaugurar um centro de saúde no interior – coisa cada vez mais rara – nem merece a visita de um adjunto de secretário de Estado-adjunto. Ao invés, a inauguração, vezes sem conta, de um mega-hospital nas urbes – que quando aberto ao público já está saturado – tem garantida a presença do primeiro-ministro. O fecho dum ramal ferroviário ou da supressão duma carreira rodoviária em Alguidares de Baixo é justificada com frases do tipo “não é rentável porque só servia uma centena de pessoas”. Mas os milhões e milhões de euros em investimento rodoviário – que pela sua dimensão dão belas imagens televisivas – são um petisco para qualquer governante. E se neste caso, mas só neste, for no interior, melhor ainda; dá-se um ar de investimento no interior, esquecendo-se que as estradas são óptimas passagens para o litoral. Também o abandono das terras aráveis e florestais do interior é visto como uma consequência “natural” da política agrícola comum. E depois acontecem os incêndios devastadores que são proporcionais à desertificação desses locais. 
Parte do país de 92 mil quilómetros quadrados que, durante os primórdios de Portugal, tantas décadas demorou a ser conquistado, está agora entregue ao abandono e ao desleixo. Não é uma pena: dá raiva.

in livro Estrago da Nação
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  1. Infelizmente há uma deficiência de política pública para fixação dos jovens no meio rural.Um bom início seria incentivar os Concelhos a adquirirem o que é básico,dentro do próprio território.Desde o início da escola,também preparar os alunos tecnicamente,para o meio rural.Mas isto é apenas um milionésimo do que há a ser feito.Senhores políticos com a palavra e as ações !Se não houver iniciativa,a "desertificação célere" está à vista.

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  2. As aldeias tornarse-ão "aldeias lar" com o retornar dos reformados e/imigrantes e com o apoio de empresas publico/privadas na assistência ao domicilio, ao estilo do que a Associação faz mas talvez com uma gestão mais transparente.

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  3. pro carvalho pás!!!!
    tanta emocão junta quando os locais sao os piores agentes da decadensia da aldeia,
    o que fazem para dar conforto e alegria de viver, hein?
    o mesmo se diz da igreja da treta que envia rapazolas para guiar a confusao das pessoas em atritos,....
    think global act local!
    ai se fosse agora, ai se este local não tivesse 2 ou 3 fdp!!!!! certo?
    CERTO!

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  4. o museu e casa em frente a associação já tão recaulficadas, vão ser aterros.
    com uma plaqa a disser que os ilutres defensores da aldeia são:



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  5. local porreirismo não enxergam mais do que uma chapa de zinco, mesmo os alfacinhas e outros
    laureiam etiquetas e maneirismos sem estrabuxarem. tenham vergonha nas ventas, não arrebitam cachimbo .

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  6. a ganza faz menos mal que o alcol

    baraka obama

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  7. fazei mas é cronicas que ajudam bué

    no xadrez o peão e rei no fim do jogo vão para o mesmo caizxote.

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