AS MINAS De MASSUEIME, OS MINEIROS SAMARRAS E MINÉRIOS, DO AMBLIGONITE AO URÂNIO.

Continuação da 1ª. parte.
VOLFRÂMIO ou Tungsténio 
Volfrâmio
Foi identificado pela 1ª vez pelo sueco A.F. Cronestedt em 1775. É um metal de Nº atómico 74, símbolo “W” ou “Tu” e massa atómica 183.95. É um minério robusto denso e pesado, pedra de cor branco-cinza e os seus minérios mais importantes são a volframita e a scheelita.
Como minério robusto possui o mais alto ponto de fusão dos metais 3.419ºC e ebulição 5.930ºC, daí a sua utilização para máquinas de corte rápido, brocas de perfuração de rochas, máquinas de deslocação de terras etc.; Blindagens e projecteis militares de eficácia superior, logo a sua grande importância nas artes de guerra e aqui, sobretudo na 2ª. Grande Guerra 1939/45. A sua exploração fez-se em lavra de filões e eluviões, os chamados jazigos primários, com extracção em profundidade e os aluviões com recolha à superfície. Um dos grandes filões foi explorado junto da quinta do “Xico Lindo”, na encosta da margem esquerda da Ribeira a caminho dos Cótimos e no Vale da Armada, este na margem direita, cerca da estrada da Pardinha.
Foi o minério sempre mais bem pago; 1 quilo vendia-se por um conto de réis. O boom deste minério decorreu nos anos da 2ª. G. Guerra. Portugal aparecia numa short lista de países produtores de tungsténio e em 1950 ocupava o 6º lugar a nível mundial com reservas deste minério.

SCHEELITE 
Scheelite 
O seu nome deve-se ao seu identificador/descobridor, o sueco K.W. Scheele em 1781. De cor amarelada
laranja ou clara, branco, verde, cinza e castanho. É o minério de tungsténio mais importante depois da volframita e usado para filamentos de lâmpadas, Com o seu primeiro filão em lavra subterrânea, no Cabeço da Ponte e Poucosiso, na margem direita da Ribeira e posteriormente nas encostas da margem esquerda, nomeadamente na Quinta da Armada - Freixial, propriedade de Augusto Carapito, que a havia adquirido em 15/02/1941 o dia do ciclone, sendo ele o capataz para esta exploração, bem como para a mina de Ervedosa na margem direita junto do Castelo, onde operava com cerca de 10 mineiros, isto também no decorrer da 2ª Grande Guerra. Este conterrâneo desligou-se desta actividade em 09.03.1944, conforme documento de quitação assinado por Pedro A. Monteiro de Barros, na qualidade de gerente da Soc. Nacional de Indústria Mineira, Lda.
Também nas encostas da margem esquerda, cerca das instalações de apoio ao complexo mineiro, se situaram filões deste minério. Longe dali e no centro dos limites da aldeia samarra, foram explorados filões de lavra subterrânea, na Ferradosa, Lomba e Cascalheiras.

A RECUPERAÇÃO dos minérios era feita nas oficinas de tratamento a (lavaria), na margem esquerda, junto da Mina do Rio, para onde era transportado desde as diversas minas locais, funcionando numa escala artesanal ou semi-industrial e a separação do estéril fazia-se por separação manual, com máquinas de fragmentação para retirar os inertes, esmagamento das pedras de minério nos moinhos, vulgo galgas, com os seus 35 martelos, distribuídos por cinco veios com sete martelos cada, cilindros peneiros, mesas oscilantes de lavagem e estufas de secagem, sendo depois ensacado em saquetas de 30/ 40 quilos, que era carregado aos ombros, encosta acima, pelos operários da lavaria até ao armazém, ficando a aguardar o seu carregamento para o Porto, em lotes de 500/1000 quilos para ser exportado.
Também ficavam na colina da margem esquerda do rio, as edificações que serviam de apoio; Escritórios, armazéns, paiol, posto da GNR e habitações dos representantes dos concessionários, os Carvalhos, que hoje se encontram em adiantado estado de ruína, como se verifica nas fotos acima. Embora as propriedades da margem esquerda se situem nos limites dos Cótimos ou Freixial, muitas pertencem a gentes samarras. O minério era levado para o Porto para os armazéns de uma das societárias e o que se destinava ao Terceiro Reich era embarcado em comboios especiais directos de mercadorias, os “Comboios - Bloco”, que circulavam entre Vilar Formoso e Hendaia – Irun, ao abrigo de um convénio assinado por Salazar e Nicolau Franco em 03/03/1941, onde era passado para comboios alemães. Só em Fevereiro de 1944, Portugal exportou para a Alemanha, via Hendaia 163 toneladas de Volfrâmio.
Estes comboios circularam até Agosto de 1944, altura do avanço dos Aliados em França. No regresso traziam máquinas e ferramentas diversas. Era um período em que tudo se comprava e tudo se vendia. Durante a guerra houve períodos em que as exportações se fizeram nas seguintes proporções: Reino Unido 61.5%, Terceiro Reich 27.2% e outros em que era divido em 50/50%, para os Aliados e para o Eixo. Como foi relatado na crónica “as últimas guerras e os soldados Samarras”, aqui fica a expressão concreta da intervenção indirecta dos Samarras na 2ª G. Guerra, com os seus minérios, dado que, ao que parece, este couto mineiro estava consignado ao lote Alemão.

Gilberto I. Paulos, ancião da aldeia, 95 anos, foi mineiro nas duas lavras.


Quem explorava estes minérios?
O grupo Monteiro de Barros integrou uma concessão de tungsténio do Engº Arnaldo Dias Monteiro de Barros; A Soc. das Minas de Massueime, Lda e a Soc. Nacional da Indústria Mineira, Lda, representada pelo Eng. Pedro A. Monteiro de Barros. A maioria do capital, pertencia à empresa alemã, Rowak & Lohmann & Co. (de Bremen) sob a fachada jurídica de Lobar- Grupo Poruguês Imp. e Exportador, Lda, do Porto e a Fundação Monteiro de Barros, Sarl, de Lisboa. Como acontecia em todas as áreas mineiras de Portugal, também aqui o silêncio e os esquemas eram comuns. O dinheiro fluía e o segredo era a alma do negócio. Para os mineiros, quem mandava nisto era um Engº. Alemão a quem chamavam de maneta por ter só um mão e o Monteiro de Barros, representados pelos conterrâneos Francisco Manuel de Carvalho e depois pelo seu filho, José Maria de Carvalho, que eram a face visível dos donos e que tinham as guias para o poderem transportar. Este conterrâneo, Francisco M. Carvalho, terá sido apresentado ao Monteiro de Barros pelo amigo, Delfim Marques dos Santos, da Souropires, que foi apontador, guarda livros, do engº. Monteiro de Barros, vindo mais tarde a serem compadres e assim se ligou à exploração dos minérios.
A escassez de técnicos portugueses nesta área, era muito grande, pelo que havia engenheiros que controlavam dezenas de minas, tal como o Engº. Arnaldo Dias Monteiro de Barros. O salário mensal oficial destes técnicos era na ordem dos 100$00 e dos capatazes 12$00.
Duas décadas depois um mineiro podia ganhar de 6$00 a 10$00 dia.
Hoje temos na aldeia um ilustre samarra, perito nesta matéria o Professor Engº. Delfim de Carvalho, filho do referido conterrâneo Francisco Manuel de Carvalho, que tem ocupado lugares de relevo a nível nacional nesta área de Geologia e Minas. Dado o contexto global favorável do mercado do “Li” e outros importantes recursos existentes nos pegmatíticos, e dada a onda de interesse na exploração mineira que se está a verificar em Portugal, será que ainda poderemos, um dia, ver as micro sondas electrónicas, a identificarem filões, calcularem a sua quantidade e rentabilidade nas minas de Massueime!...
Após décadas de abandono, em 2009, com a intervenção da E.D.M., procedeu-se à reabilitação paisagística com movimento de terras, no Cabeço da Ponte e Ferradosa, selagem de poços e galerias e implementação de vedações com uma empreitada de 144.636,00. Euros.

Fontes: As Enciclopédias Samarras ainda vivas e que testemunharam e viveram estes fatos e A.J.P. Nunes in “O Estado Novo e o Volfrâmio”.

À boa maneira Samarra: Bem-Haja a todos Vossemecê.
Continua – com as Minas da Sra. das Fontes (Urânio)


Abril 2013 (20)
Apaulos

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