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   Uma lenda muito antiga narra que Santa Eufémia faz parte de um grupo de nove irmãs gémeas (Quitéria, Genebra, Vitória, Eufémia, Marinha, Marciana, Germana, Basília e Liberata), que a mãe mandou afogar no rio Este (em Braga). Sita, a criada, toma as crianças e confia-as aos cuidados de Santo Ovídio, o Prelado bracarense. E, de acordo com a lenda, as nove irmãs teriam sido martirizadas no tempo do Imperador Adriano.
       Não obstante haver muitas cidades a disputar o berço de Santa Eufémia, e outras tantas lendas a propósito do seu miraculoso nascimento, sabe-se que há apenas uma Mártir com este nome: Santa Eufémia de Calcedónia. Nasceu na Bitínia, em data ignorada, e foi martirizada em Calcedónia (Grécia) por volta dos anos 307 - 310 da era cristã, aquando das encarniçadas perseguições movidas pelo Imperador romano aos cristãos.
      Após as várias torturas a que foi sujeita para que renegasse a fé cristã, foi lançada aos leões, no circo. Mas estes pouparam-na. Irados, os seus algozes mataram-na com um golpe de espada.
      Encontramos não poucas referências a Santa Eufémia nos escritores antigos. Várias igrejas foram construídas em sua honra um pouco por todo o orbe cristão. Foi na igreja de Santa Eufémia que reuniu o Concílio de Calcedónia, no ano 451.

Virgem e mártir de Calcedónia. Fresco na Basílica de Santa Eufêmia em Piacenza, Italia.

      O Concílio de Calcedónia – o IV Concílio Ecuménico – foi convocado pelo imperador Marciano, com assentimento do Papa São Leão, para definir o dogma cristológico. Participaram entre 500 a 600 bispos, quase todos orientais. Foi nessa altura proclamada uma importante fórmula de fé, que definiu a unidade da pessoa de Cristo em duas naturezas – homem e Deus – sem confusão nem mudança, sem divisão nem separação. Neste Concílio foram também aprovados vários cânones disciplinares sobre os bispos, os clérigos, os monges e as paróquias.
      A festa de Santa Eufémia realiza-se no dia 16 de Setembro.
      Santa Eufémia de Calcedónia é representada iconográficamente de vários modos: com uma espada cravada no peito; com dois leões, deitados, a seus pés; com um lírio ou uma palma de martírio. É também representada com uma roda (alusão a um dos tormentos que lhe foram infligidos antes de ter sido atirada aos leões).
      Atendendo a que Santa Eufémia faz parte duma imensa multidão de mártires da primitiva Igreja, não são muitos os dados biográficos que dela chegaram até nós. Aliás, a escassez de dados biográficos contrasta com as muitas referências que são feitas à Santa de Calcedónia, cidade na qual teve lugar um dos grandes Concílios da Igreja. Infelizmente, abundam por aí as mais variadas lendas, sem o mínimo dos mínimos de credibilidade ao redor desta santa. Aqui e além, porém, podemos respigar alguns breves apontamentos biográficos fidedignos. Transcrevo um deles:
      O procônsul Orisco enamora-se da virgem Euphemia, de Calcedónia, e a tinha atormentado já sem a vencer. Ameaçou-a de a queimar viva, se não renunciasse à sua fé. 
      - Não temo esse fogo com que me ameaças, diz-lhe ela com ar intrépido; accende-se quando se quer e por si mesmo se apaga; tenho bastante coragem para não temer dores que não teem quasi senão um momento de duração. O que me faz tremer é o pensamento do fogo eterno, que arde e arderá sempre nos infernos, esse fogo que arderá sempre cada vez mais sem nunca afrouxar; esse fogo que está preparado para aquelles que sacrificam aos ídolos e abandonam o verdadeiro Deus.


      Havendo, como afirmei já, apenas uma Santa chamada Eufémia (de Calcedónia), quero aqui transcrever a lenda de Santa Eufémia e suas irmãs mártires – a lendária Santa Eufémia portuguesa. Trata-se de uma lenda, sem qualquer fundamento histórico, como é óbvio. Todavia, atendendo a que não deixa de ser uma das mais curiosas lendas que li até hoje, acho oportuno citá-la.


      Santa Eufémia teve o seu berço em Calcedónia, cidade da Ásia Menor, junto ao Mar Negro. 
      Ali nasceu no último quartel do século II da era cristã, e ali sofreu também o martírio no ano 303, sob o império de Diocleciano. Porque era objecto de grande veneração em toda a cristandade, a partir da Idade Média várias cidades se atribuíram a glória de lhe terem servido de berço, entre as quais a de Braga. Este facto deu origem a várias lendas que os célebres «cronicões» se encarregaram de registar e fazer acreditar através de muitas gerações. Porém, nos nossos dias, vários hagiógrafos de renome, depois de se terem debruçado pacientemente sobre os documentos autênticos da especialidade, puderam chegar à conclusão certa de que houve apenas uma comemorada na Igreja Católica no dia 16 de Setembro. 
      Segundo a velha tradição, é uma das oito irmãs gémeas de Santa Quitéria. Viveu no século segundo da era cristã, tendo nascido, provavelmente, no ano 120. 
       Era filha de Lúcio Caio Atílio Severo, Régulo duma das províncias do Império Romano, a qual se compunha de parte da antiga Lusitânia e de parte da Galiza. 
      Lúcio Caio residia na cidade de Braga e era casado com D. Cálcia Lúcia, ambos de famílias muito ilustres, mas idólatras e gentios. Lúcio Caio soube conquistar de tal maneira as boas graças do Senado Romano, que este o elegeu Cônsul, um dos mais elevados cargos do Império. 
      O imperador Adriano também depositava nele a maior confiança. Encarregou-o, por isso, de fazer uma visita oficial á Galiza, para que o informasse das necessidades mais urgentes de seus povos, pois resolvera visitar todas as províncias do Império, e queria minorar a sorte de todos aqueles que se encontravam oprimidos pela tirania dos governadores. Durante as longas ausências de Lúcio Caio em Roma, a rainha Cálcia ficava na cidade de Braga, onde tinham o seu palácio. 
      Partindo de Roma para se desempenhar da missão de que fora, encarregado pelo Imperador, veio por Braga, onde se demorou durante algum tempo junto da esposa. Esta, depois de ser estéril durante anos, concebeu nesta ocasião, e ficou grávida quando Lúcio Caio seguiu para a Galiza.

Santa Eufêmia -  Autor: Francisco Zurbaran (1598 – 1664)

      Chegado o tempo do parto, durante a ausência de Lúcio Caio, a rainha Cálcia deu á luz nove meninas duma beleza encantadora. Abismada com tão estranho e raro acontecimento, e receosa de que seu marido viesse a suspeitar da sua fidelidade à vista duma prole tão numerosa, Cálcia concebeu um projecto que só lhe podiam inspirar os espíritos infernais: desfazer-se de todas as suas filhinhas, mandando-as afogar no rio Este, que passa junto da cidade de Braga. 
      Comunica este seu execrando projecto a sua criada, Sita, que lhe assistira ao parto, e a única pessoa que tivera conhecimento do extraordinário fenómeno. 
      Depois de o obrigar a prometer-lhe que guardaria de tudo o maior segredo, ordena lhe que faça divulgar a noticia de que a rainha tivera infeliz sucesso no parto; e que aproveitando a escuridão da noite, tome em um cesto as nove criancinhas e vá lançá-las num dos pélagos mais profundos do rio Este. Sita, porém, era cristã, embora ocultamente. Por isso, não podia colaborar em crime tão monstruoso. A sua recta consciência de cristã fervorosa não lho podia consentir. 
      Perplexa, sem atinar com o que devia fazer, recolhe-se por momentos em fervorosa oração, invocando o auxilio de céu em tão delicada conjuntura. 
      E, como sempre sucede àquele que bem ora, o socorro do Alto não se fez esperar. 
      Inspirada pela Divina Providência, Sita toma as nove inocentes criancinhas; e, em vez de se dirigir para o rio, como lhe ordenara a rainha, corre a levá-las ao arcebispo de Braga, Santo Ovídio, pedindo-lhe que as baptize, afim de assegurar, antes de mais nada, a vida da alma, a quem corria tão grande risco de perder a do próprio Corpo. 
      O Santo Arcebispo, posto ao facto de tudo o que se passava, depois de louvar a santa solicitude de Sita, derrama sobre as cabeças das felizes meninas as águas lustrais do baptismo, impondo-lhes os seguintes nomes: Quitéria, Genebra, Vitória, Eufémia, Marinha, Marciana, Germana, Basilia e Liberata. 
      Radiante de alegria, ao ver as inocentes meninas livres da maior desgraça que as ameaçava, a de morrerem sem o santo baptismo, Sita vai agora esforçar-se por lhes salvar também a vida do corpo. 
      Com esse fim, toma novamente as meninas, e vai procurar amas de leite, cristãs, que as criem e eduquem na Santa Religião de Cristo. 
      E como nesses tempos primitivos da Igreja já estava muito espalhada a Fé Cristã na cidade de Braga e seus arredores, foi-lhe fácil encontrá- las. 
      Santo Ovídio nunca mais deixou de se interessar pelas felizes meninas, e tomou mesmo à sua conta todos os encargos da sua criação e educação. A formação religiosa, que receberam, foi a mais completa possível; e produziu uma tão grande influência nos corações das santas meninas, que veio a informar por completo toda a sua vida.

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fonte: paroquia-alvarelhos
Pe. Manuel António Moreira

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  1. Calcedónia não fica atrás da Intimissimi, isso é verdade.
    Tabaco com sabor a mentol vai acabar. Mas quem é que fuma erva com tabaco de sabores?

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