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   Desiludido e enfurecido, o governador ordenou que a atormentassem num cavalete de ferro, o que prontamente se executou. Insatisfeito ainda, mandou acender uma fogueira e suspender pelos cabelos sobre ela a nossa Santa.
   Mas Eufémia, amparada por uma graça especial de Deus, longe de desfalecer, não cessava de cantar os louvores do Senhor, no meio destes tormentos.
   Envergonhado por tantas derrotas, o iniquo governador, cego pelo seu fanatismo pagão, ordenou que a levassem à Serra do Gerez e aí a precipitassem do alto dum elevado rochedo, para que morresse despedaçada no fundo do abismo.
   Porém, ó prodígio!
   Mais uma vez o Senhor veio em socorro da sua fiel serva, mandando-lhe um Anjo que a suspendeu no ar, e, de mansinho, a depôs no fundo do vale, sã e salva, sem a mais leve arranhadura!
   Vendo os ímpios ministros da execução que Eufémia escapara mais uma vez às suas mãos iníquas, levaram-na de rastos à presença do governador, o qual, num acesso de furor, puxou da própria espada e, apontando-a ao seu angélico peito, lhe atravessou o coração. 
   Assim se desprendeu esta bela alma de seu corpo mortal, para desferir o seu voo em direcção ao céu.

   Assim findou a sua peregrinação na terra esta grande heróica da Santidade.
   Foi no dia 13 de Abril do ano de 140 da era cristã.
   Tinha então 20 anos de idade. No mesmo dia foram também martirizados dois confessores da Fé, cujos nomes se ignoram, e seus corpos lançados a um valado juntamente com o de Santa Eufémia. Os cristãos daquele lugar foram de noite buscar as venerandas relíquias e deram-lhes piedosa sepultura junto dos muros da cidade de Obóbriga.
   Com as invasões dos bárbaros, que se deram nos séculos seguintes, desapareceu a tradição do lugar da sepultura de Santa Eufémia. Passaram-se séculos.
   Só no ano de 1090 se dignou Deus revelar ao mundo o corpo de Santa Eufémia, para sua pública veneração.
   Certo dia, pastoreando o seu rebanho naqueles sítios uma inocente e piedosa rapariga, em dado momento observou uma mão que emergia da terra e se agitava, tendo num dos dedos um anel de ouro com uma resplandecente pedra preciosa. A rapariga aproxima-se da mão misteriosa, toma-lhe o anel, e larga em desabrida correria para sua casa, a mostrar aos pais o precioso achado e a contar-lhe o estranho fenómeno.
   Mas, ó prodígio! A rapariga ficara muda, só podendo por sinais informá-los do sucedido.
   O pai acompanha-a, sobressaltado, ao miraculoso local, e, vendo a mão misteriosa, toma o anel e coloca-o no seu lugar.
Imediatamente a rapariga recupera a fala e começa a relatar ao pai tudo o que se havia passado. Ao mesmo tempo ouviram uma voz que dizia:
   «Aqui está o corpo de Santa Eufémia; tratai de o levar para a igreja de Santa Marinha para ai ser venerado».
   Confuso e alegre ao mesmo tempo, o lavrador volta a casa e conta aos vizinhos e amigos o sucedido.
   Dirigem-se ao local, mas já não se vê ali a mão misteriosa. Cavam; e com admiração de todos, aparecem os corpos de Santa Eufémia e dos dois mártires que com ela morreram pela Fé.
   Estas relíquias foram encerradas religiosamente numa urna e trasladadas para a capela de Santa Marinha, que distava dali um quarto de légua.



   Crescendo a devoção dos cristãos para com Santa Eufémia e Santa Marinha, a pequena capela foi, dentro em pouco, transformada em Igreja paroquial com o título de Santa Marinha de Covide, e o corpo de Santa Eufémia foi depositado numa capela anexa.
   Porém, 60 anos mais tarde, ou seja em 1158, o bispo de Orense (Galiza), muito devoto de Santa Eufémia, desejando possuir na sua Sé as veneradas relíquias e invocando direitos que desconhecemos, veio a Covide acompanhado dum grande séquito de sacerdotes e de povo; e, colocando o Santo corpo numa urna nova, o fazia transportar com toda a pompa e solenidade para a sua Sé, quando lhe sai ao encontro o    Arcebispo de Braga, com os sacerdotes e o povo da cidade, a protestarem contra a usurpação dos venerandos despojos, e a oporem-se à sua trasladação.
   Para solucionar a questão, os dois bispos concordaram em entregar o caso à Providência, colocando a urna de Santa Eufémia num carro tirado por uma junta de touros que nunca tivessem trabalhado, aos quais deixariam encaminhar-se para onde os guiasse o seu instinto.
   Assim se fez; mas, com grande mágoa para o Arcebispo de Braga e seu povo, os touros tomaram o caminho de Ourense e, sem que ninguém os tangesse, foram quedar-se às portas desta cidade.
   Conhecida assim a vontade de Deus, a veneranda relíquia foi levada numa procissão majestosa através das ruas de Orense até à Sé Catedral, onde ficou depositada e ainda hoje se encontra em grande veneração.
   Orense celebra a festa de Santa Eufémia no dia 16 de Agosto com um rito particular.
   Portugal, embora privado do precioso corpo de Santa Eufémia, nem por isso afrouxou a sua devoção por ela. Pelo contrário, tantos séculos são passados sobre a sua morte e até sobre a perda de suas relíquias, e, apesar disso, é cada vez maior a devoção popular pela simpática Santa Portuguesa.

   Foi esta devoção popular que fez construir, aqui e além, Santuários em sua honra.
  Na serra do Gerez há um que fica, segundo a tradição, no próprio lugar donde a Santa foi lançada ao fundo do precipício.
gar donde a Santa foi lançada ao fundo do precipício. Este Santuário está situado junto do parque das famosas águas termais do Gerez e é frequentado pelos fiéis que ali vão à busca de melhoras para a saúde.
   O do Monte da Carriça é, sem dúvida, o mais frequentado de  Portugal, e o povo tem uma devoção verdadeiramente singular pela bela  e milagrosa imagem que nele se venera. Ao longo dos tempos, multidões  de crentes têm ajoelhado aos pés desta imagem, quanto deles derramando  lágrimas de sentida gratidão pelos benefícios recebidos.
   É esta melhor prova de como Santa Eufémia se compraz em repartir, deste seu trono de misericórdia, graças e bênçãos sem conta a favor dos seus devotos.
Bendita seja, por isso, este Monte de maravilha e de milagre, Solar Sagrado da grande Santa que o escolheu para trono das suas benemerências.

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fonte: paroquia-alvarelhos 
Pe. Manuel António Moreira


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