Continuação da 2ª. parte.


A Ermida de Santa Bárbara
É uma das três Ermidas mais vetustas da nossa paróquia e situa-se no cimo da colina dos Mortórios, olhando e protegendo o seu povo devoto que se estende pelo vale a seus pés e o ditado de que: “só nos lembramos de Santa Bárbara quando ouvimos o trovão”, como Ela convive connosco, os Samarras basta levantarem os olhos para verem a sua capelinha e se lembrarem da sua inquilina a quem pedem ajuda, logo que o relâmpago anuncia o ribombar do trovão.

A Virgem e Mártir Santa Bárbara, nasceu no ano de 280, d.C. em Nicomédia – Bitínia, actual Izmit – Turquia. Era filha única de um rico nobre de nome Dióscoro, que a havia de degolar no ano de 317, por se ter convertido à fé cristã.
Esta jovem, inteligente, bela e rica, acabou por morrer pela sua fé tal como Santa Eufêmia e foram contemporâneas uma da outra e da mesma região, no Médio Oriente e os Samarras juntaram-nas no nosso chão que agora é Delas e nosso.

  Capela de Santa Bárbara e o nicho, onde aguarda a visita dos seus devotos.(2014).


O seu pai no intuito de a proteger dos devaneios do mundo, mandou construir uma torre, onde a encerrou e arranjou-lhe como professor um sábio mercador que ali apareceu. Acontece que este mercador era um missionário, que a instruiu na fé cristã. O seu pai ao voltar de uma longa viagem verificou, que a sua filha Bárbara tinha algumas atitudes, para ele, estranhas e ao confronta-la, ela confessou que fora baptizada e que se converteu à fé cristã. O pai furioso denunciou-a ao Perfeito Martiniano, que a mandou torturar e acabou por ser degolada pelo próprio pai, por ter acrescentado ao seu nome o apelido de “Cristã”.
Conta a lenda, que ao ser degolada, o seu pai foi fulminado por um raio.
É a padroeira dos artilheiros, mineiros e dos que lidam com fogo e contra tempestades e sempre que o ribombar dos trovões surpreendem os Samarras, estes viram-se para a sua protectora para que olhe por eles, enquanto a tempestade os aflige, recorrendo à sua intercessão, nomeadamente, com esta oração, que muitas vezes ouvimos rezar às nossas mães, por vezes connosco ao colo, quando regressávamos do trabalho nos campos, ou abrigados da trovoada debaixo de uma singela e rude cabana, ou encostados a um barroco ou parede, procurando o lado de onde a água fosse menos batida pelo vento e com uma peça da albarda a proteger-nos a cabeça;


Santa Bárbara bendita,
Que no céu está escrita,
Com papel e água benta,
Livrai-nos desta tormenta.
ou (Senhor livrai-nos desta tormenta).


Esta é a melhor colina para se mirar e admirar a aldeia Samarra.
Sugerimos que a “Comissão da Fábrica da Igreja”, não deixe que os carvalhotos, que crescem entre a pequena Ermida e a Aldeia, cresçam de maneira a ocultarem uma da outra; até porque, os seus proprietários terão dado carta branca, à solicitação dos membros da “Comissão da Fábrica da Igreja”, para que o seu recinto, do lado da aldeia, se estenda como melhor o entendam. Fica aqui o obrigado dos Samarras ao “Ti António Monteiro e seus herdeiros”, por tão abnegada atitude e que é de louvar. Também o proprietário do terreno vizinho e contíguo do lado do Sorval, cedeu alguns metros de maneira a que o recinto ficasse mais composto; que a Santa Bárbara o proteja em dias de tempestades.
O seu pequeno recinto, agora tem estado mais cuidado, o que é sempre de louvar e a Comissão Fabriqueira continua a fazer diligências para alindar esta pequena Ermida, nomeadamente a plantação de árvores nos cantos do recinto, sem que estas a ocultem da aldeia.
A sua festa no calendário litúrgico é em 04 de Dezembro, mas os Samarras festejam o seu dia no último domingo de Maio, com a celebração da Eucaristia na sua Ermida.
Na festa de Santa Eufêmia, em 16 de Setembro, tem um lugar especial na procissão da sua conterrânea, como uma das convidadas de honra.
Esta aldeia, também foi uma terra de padeiras, coziam o pão/trigo de noite e pela manhã, iam por outras aldeias vendê-lo e por vezes já regressavam de noite. Um dia a ”Tia Maria do Bernardino”, que tinha ido fazer a sua venda para os lados de Vila - Franca das Naves e já tardando a chegar, o marido pediu ajuda a um amigo, hoje o ancião da aldeia, para a irem ao seu encontro. O amigo foi pelo caminho dos mortórios, o mais medroso e o marido pelo dos Sr. dos Aflitos, e não é que no caminho dos mortórios, numa moita de carvalhotos junto da capelinha, efectivamente, um malvado samarra esperava a padeira e decerto que não era para lhe fazer companhia, para a proteger; será que não foi a nossa Santa Bárbara que lhe intuiu para ir pelo caminho do Senhor dos Aflitos e não por aquele que habitualmente tomava. In: “Coragem Samarra na Necessidade e na Solidariedade”.


A Ermida do Senhor dos Aflitos 
A terceira das nossas Ermidas mais antigas e de certo, a segunda mais vetusta, localiza-se à beira da estrada de quem entra na aldeia pelo lado Oeste, a cerca de 500m da aldeia, numa pequena colina e que permite observar a aldeia como esta foto no-lo demonstra.


A Aldeia vista da Ermida do Senhor dos Aflitos. (2014).

Encontra-se enquadrada por um muro rectangular bem construído e encimado por grandes lajes de granito bem trabalhadas. Estava protegida dos calores tórridos do verão e dos ventos agrestes do inverno, por quatro cedros centenários, dois dos quais escaparam ao ciclone de 1941, mas, hoje já só existe um, ainda com toda a sua majestade, dado que o outro no último quartel do século XX, foi sendo consumido pelo fogo que mãos criminosas foram colocando no seu miolo já carcomido pela idade e dele pouco mais resta, que a certeza de que também fora um cedro que honrou os pergaminhos dos seus pares, que protegeram a ermida do Senhor.  

A Capela  mesmo à beira da estrada (fotos 2014).
      
Cedro bi-centenário que ainda protege a capela dos Senhor dos Aflitos.

Tamanho da primitiva capela. (2014)

Nesta ermida, a pequena capelinha que faz parte da actual, como se fosse o seu altar, foi estendida para a frente e alargada simetricamente, é muito vetusta como referimos e porventura do tempo da Ermida da Senhora das Fontes!.. 
A pequena ermida cujas dimensões são; profundidade do nicho 1,70m e largura 2,30m as quais se podem observar pela foto, foi integrada na actual e tem no seu telhado aí a 1/4 do seu cumprimento um pináculo, que coincide com o terimnus da que foi a sua frente, enquanto capela primitiva e em cujo arco da que foi a sua frontaria, hoje no seu interior, bem trabalhada em pedras de cantaria, está um brasão do qual só se visualiza uma parte, já que o tecto de madeira do acrescento, à capela actual, encobre metade do dito brasão.
Hoje as suas dimensões são no acrescento: cumprimento 6m e largura 3,90m com o alargamento simétrico de 0,80m para cada lado.

Integrada no seu interior, a que foi a fachada da primitiva Ermida. (2014).

A festa de Santa Eufêmia encerra-se com a visita desta à capelinha do Pai, o Senhor dos Aflitos; assim, no dia seguinte à festa da Santa, os Samarras vão em procissão até à Ermida do Senhor dos Aflitos, à frente da qual seguem os dois estandartes; o da paróquia de Santa Eufêmia, e o de Santo António e algumas bandeiras, seguidas do andar da Santa Eufêmia, que assim se associa à festa do Pai, por quem esta jovem virgem e mártir, cerca dos anos de 308 A.D., deu o seu testemunho com a própria  vida e por isso tem hoje honras de altar em muitas igrejas do mundo, sendo venerada nas igrejas Católica e Ortodoxa.
A cerimónia consta de missa campal e sermão, posto o que a procissão regressa à igreja paroquial e assim terminam as festas de Santa Eufêmia, no que concerne à componente religiosa.
Sempre que um Samarra passava defronte desta Ermida, levava a mão à cabeça, fazendo o gesto respeitoso, de levantar o seu chapéu, como o faziam os nossos antepassados, quando se cruzavam com alguém que lhes merecia esse respeito; vide crónica “Dar a Salvação”. Este gesto ainda hoje é respeitado por muita gente.
A localização desta Ermida, tal como a da Senhora das Fontes e Senhora da Ajuda, que se encontram na berma da estrada, leva a que muitos caminheiros deixem ali os seus pedidos, para as agruras da vida e agradecimentos dos dons recebidos, ao “CRISTO” e à “VIRGEM MÃE”.  


Ermida da Senhora da Ajuda


A singela Capelinha da Senhora da Ajuda. (2014)


Esta pequena Ermida foi construída em 1982, com os donativos dos benfeitores emigrantes; ainda hoje os seus mordomos são nomeados de entre os emigrantes que ainda o são ou que já regressaram à aldeia.
É a mais recente das nossas Ermidas e por via das construções que se têm verificado nesta Av. Da Senhora das Fontes, onde se localiza; um dia talvez venha a perder o conceito de ermida se integrada no meio de moradias.
A sua festa tem lugar no dia 15 de Agosto, dia em que se celebra a Assunção de Nossa Senhora e começa com a saída da procissão com o andor de Nª. Senhora da Ajuda, da Igreja Paroquial até à sua Ermida, onde é celebrada missa campal e sermão.

Na celebração da Eucaristia dia 15 Agosto. (2014)


Aqui o celebrante é o pároco da aldeia Pe. Ricardo  Fonseca

A Senhora da Ajuda no seu andor. (2014)

É uma festa singela, em que a “Virgem Mãe”, aqui é venerada com o nome de Senhora da Ajuda.


Nicho das Alminhas
O nicho das alminhas encontra-se na Rua Principal, Nº 13, encrostado na parede de um cabanal. O seu Crucifixo tinha sempre, quando éramos garotos, uma lamparina a azeite acesa para alumiar o Cristo crucificado; hoje em dia, só acontece esporadicamente.

Foto (2014)

A passagem em frente deste nicho fazia, faz!.., recordar aos Samarras, aqueles que cumpriram o percurso da caminhada da vida, pelos caminhos e carreiros da aldeia.

Já referimos os principais e magnificas obras de arte que são os cruzeiros, que se encontram na Ermida da Senhora das Fontes, e o suporte de um que desapareceu aquando da feitura da actual estrada, este que estava à entrada do Santuário, que marcava, isso mesmo marcava a entrada do espaço do Santuário, como havia em todas as entradas da aldeia uma cruz de madeira no total de cerca de 20, mas em madeira e por serem em madeira, umas foram-se degradando e outras objecto de actos de vandalismo e alguém se propôs substitui-las por cruzes de ferro, mas voltaremos a falar nesta promessa, só parcialmente cumprida e os porquês da promessa e do não cumprimento cabal da mesma.
Assim temos no início das Rua dos Emigrantes, aquela que foi a Rua de Entre-Caminhos, ao Cima do Povo, um outro cruzeiro, ainda que parcialmente deslocado por causa da construção do “Café do João” e outro no Largo da Igreja.

Cruzeiro ao Cima do Povo (2014)     
   
Cruzeiro no Largo da Igreja (2014) 

Quanto às cruzes, graníticas, que encimam a nossa igreja, capelas e torres sineiras, num total de cerca de uma dúzia, sobressai a da Capela-Mor da Senhora das Fontes, pois é uma magnífica cruz granítica toda rendilhada, fazendo dela uma peça rara e muito admirada, também as três, todas iguais, que estão na cobertura da igreja, uma ao meio e as outras, duas, uma a cada ponta, são dignas de admiração. 

Sob o portal da Igreja (2014)

Não devemos só olhar, devemos olhar com olhos de ver, pois, quando olhamos com olhos de ver, vemos mais história e mais encanto e conhecendo a identidade do nosso chão, sentimo-nos mais deste lugar.



Continua na 4ª parte
Novembro 2014 (45)
Apaulos




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  1. Muito bem. Não seria de repor o cruzeiro que se encontrava à entrada da Ermida da Sra. das Fontes, agora que se sabe onde está o seu suporte de base?
    Fica a sugestão.

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    1. pois seria, mas só quando tivermos alguém que zele pela aldeia.

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  2. Parabéns António Paulos.Mais uma excelente matéria,que só acrescenta conhecimento aos samarras.Pesquisa sucinta e abrangente que só nos orgulha.Obrigado em nome de Jeremias Carapito/João Augusto Carapito-Brasil.

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  3. a ermida dos Senhores dos Aflitos juntamente com a de St.a Bárbara estão um pouco esquecidas. Faz-me mais impressão a dos S. dos Aflitos pois essa fica a dois passos da aldeia. Que rico património tem o nosso povo. A nossa paróquia. O padre.

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